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A Meditação Verdadeira: Descubra a Liberdade da Consciência Pura (Adyashanti traduzido)

Tempo de leitura: 47 min

Escrito por Davi Klein
em abril 15, 2022

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Nesse post, irei trazer os ensinamentos de Adyashanti a respeito da verdadeira meditação, e sobre a liberdade que podemos conseguir através dela. Nesse blog, tenho o intuito de trazer os ensinamentos/ponteiros dos maiores mestres espirituais, que podem nos ajudar e nos guiar em nosso caminho de descoberta da natureza da realidade, do Self, Tao, Pura consciência, Deus, Verdade (ou o que quer que você queira chamar)

O livro “True Meditation: Discover the freedom of pure awareness” foi escrito por Adyashanti, um dos grandes professores espirituais da atualidade, que estudou na escola zen budista por cerca de 14 anos. Ele compartilha muitos insights sobre a natureza do nosso ser e nos orienta para ela, por meio dos seus ensinamentos simples e diretos.

O que aconteceria se você permitisse que tudo fosse exatamente como é? Se você desistisse da necessidade de controlar e, em vez disso, abraçasse toda a sua experiência, de momento a momento?

O que Adyashanti percebeu ao longo de seus anos como professor espiritual, é que somente quando você se desapega de todas as técnicas – até mesmos do conceito que você têm de si mesmo como meditador – que você irá se abrir para a Verdadeira Meditação, mergulhando no estado natural.

Em suas próprias palavras:

“Fomos ensinados a acreditar que o despertar é difícil, que para acordar da ilusão da separação são necessários muitos anos. Mas tudo o que é necessário é a disposição de olhar para as profundezas de sua experiência aqui e agora. A Verdadeira Meditação te dá a oportunidade de recuperar o verdadeiro propósito da meditação: ser uma porta de entrada para a liberdade sem objetos/forma do Ser”

Adyashanti

Não importa se a pessoa é nova a meditação ou se ela já medita a muito tempo. O que importa é a atitude na qual nos engajamos no processo da meditação. A coisa mais importante é chegar a meditação com uma atitude aberta, uma atitude que é verdadeiramente inocente, o que significa uma atitude que não é colorida pelo passado, pelo que ouvimos sobre meditação pela mídia ou pelas diversas tradições religiosas e espirituais. Precisamos abordar a noção da meditação de forma fresca e inocente.

Adyashanti

Todos nós vivemos numa espécie de laboratório espiritual na qual testamos os ensinamentos que encontramos ao fogo de nossa própria experiência. O que importa, não é a verdade que outras pessoas nos dizem, ou as práticas que sabemos imitar, mas as descobertas espirituais que descobrimos por meio da investigação pessoal.

Nos retiros de silêncio que Adya realizava com buscadores espirituais, a instrução básica que ele dava para o processo da Verdadeira Meditação era a seguinte: Sem manipulações. Além dessa instrução, Adya também fornecia um folheto escrito para que os praticantes contemplassem, caso achassem necessário, explicando o que ele queria dizer com “Verdadeira Meditação”. O folheto dizia o seguinte:

Verdadeira Meditação

A Verdadeira Meditação não tem direção, objetivos ou métodos. Todos os métodos visam atingir um determinado estado mental. Todos os estados mentais são limitados, impermanentes e condicionados. O fascínio pelos estados leva apenas ao apego e à dependência. A verdadeira meditação é a permanência como consciência primordial.

A verdadeira meditação aparece na consciência espontaneamente quando a consciência não está fixada em objetos de percepção. Quando você começa a meditar, você percebe que a consciência está sempre focada em algum objeto: em pensamentos, sensações corporais, emoções, memórias, sons, etc. Isso ocorre porque a mente está condicionada a se concentrar e se contrair nos objetos. Então, a mente interpreta compulsivamente o que está ciente (o objeto) de uma forma mecânica e distorcida. Ele começa a tirar conclusões e fazer suposições de acordo com o condicionamento passado.

Na verdadeira meditação todos os objetos são deixados em seu funcionamento natural. Isso significa que nenhum esforço deve ser feito para manipular ou suprimir qualquer objeto de consciência. Na meditação pura, a ênfase está em ser consciência: não em estar cônscio de objetos, mas em repousar como a própria consciência primordial.

A consciência primordial (consciência) é a fonte na qual todos os objetos surgem e desaparecem. À medida que você relaxa suavemente na consciência, na escuta, a contração compulsiva da mente em torno dos objetos vai desaparecer. A quietude do ser virá mais claramente à consciência como um convite para repousar e permanecer nela. Uma atitude de receptividade aberta, livre de qualquer objetivo ou antecipação, facilitará a presença do silêncio e da quietude que se revelará como sua condição natural.

O silêncio e a quietude não são estados e, portanto, não podem ser produzidos ou criados. O silêncio é o não-estado pelo qual todos os estados surgem e desaparecem. Silêncio, quietude e consciência não são estados e nunca poderão ser percebidos em suas totalidades como objetos.

O silêncio é a testemunha eterna sem forma ou atributos. À medida que você descansa mais profundamente como testemunha, todos os objetos assumem sua funcionalidade natural e a consciência se torna livre das contrações e identificações compulsivas da mente e retorna ao seu não-estado natural de Presença.

A simples mas profunda pergunta “Quem sou eu?” pode então revelar que você não é a tirania infinita da personalidade-ego, mas Liberdade sem forma/objeto do Ser – a consciência primordial na qual todos os estados e todos os objetos vêm e vão como manifestações do Self (eu) não nascido e eterno que você é.

Adyashanti

De acordo com Adya, o que mais importa não é o que os outros falam mas sim o que você descobre/realiza em sua própria experiência.

Permitindo que tudo seja como é

Iremos investigar a noção total de meditação, o que a meditação é, porquê meditamos e onde a meditação pode nos levar. Eu quero explorar o que chamo de “Verdadeira meditação”. Você perceberá que ela é algo muito específico e diferente de outras meditações que as pessoas estão acostumadas a escutar sobre. Mas primeiramente, irei contar uma história pessoal:

Terminando a guerra com a mente

Eu venho de uma tradição Zen Budista, e nessa tradição há uma longa história na qual a prática fundamental (primordial) é a meditação. No Zen, você medita por horas em uma posição sentada por um tempo específico. E o que eu descobri depois de muitos anos de prática nesse estilo de meditação é que eu não era particularmente bom nela. Eu acho que muitas pessoas descobrem, quando elas começam a meditar, que elas não são boas naquilo – suas mentes são aceleradas, seus corpos querem ficar se mexendo e é difícil para elas se acalmarem e ficarem quietas. Então, a minha experiência desde o começo foi que a meditação era algo muito difícil de fazer e eu descobri que muitas pessoas enfrentam a mesma dificuldade.

Então, eu me encontrava sentado em vários retiros e em casa. Em casa, eu me sentava por cerca de meia hora, uma hora ou as vezes até mais – e muito da minha meditação, na realidade, não era meditação de fato. Era muito esforço, muito de tentar acalmar a mente e controlar meus pensamentos e muito de tentar ficar quieto/silencioso, sem muito sucesso – exceto por alguns momentos mágicos na qual a meditação parecia ocorrer.

Pelo fato de eu não ser “bom” em meditar inicialmente, em ser capaz de controlar minha mente e entrar em estados meditativos, depois de alguns anos eu percebi que eu precisava encontrar uma forma diferente de meditar. A abordagem que eu estava usando claramente não estava funcionando. Foi a partir daí que eu inicie minha investigação no que eu chamo de “Verdadeira Meditação”.

Um dia, eu estava conversando com minha professora e ela disse: “Se você tentar vencer a guerra contra a sua mente, você continuara em guerra para sempre.” Aquilo me fez perceber algo. Naquele momento eu percebi que eu estava vendo a meditação como uma batalha contra minha mente. Eu estava tentando controlar a mente, tentando pacificá-la, tentando fazer a minha mente ser quieta. Se eu continuasse dessa forma eu continuaria preso nessa luta interminável com minha mente – eu precisava achar uma forma de não ficar em guerra com minha mente. Sem mesmo saber, eu comecei a investigar, de uma maneira quieta e profunda, como seria não estar em guerra com a minha própria mente.

Eu comecei a meditar de uma forma diferente. Eu deixo de lado a ideia que eu tinha do que a meditação deveria ser. Minha mente tinha muitas ideias sobre meditação: Que deveria ser pacífica, que eu deveria me sentir de uma determinada forma, mais calmo, que a meditação deveria me levar a um profundo estado de ser. Mas, pelo fato de eu não ter conseguido me aperfeiçoar na técnica que meditação que antes me fora ensinada, eu tive que descobrir uma forma diferente de meditar, que não era baseada em uma técnica. Então, eu simplesmente sentei e deixei minha experiência ser, de uma forma muito profunda. Eu comecei a deixar de lado qualquer tentativa de controlar minha experiência. Isso se tornou o começo da descoberta da Verdadeira Meditação. Daquele ponto em diante, aquela mudança, de deixar de aperfeiçoar uma técnica ou disciplina para deixar ir/desapegar-se de qualquer técnica ou disciplina começou a ser a maneira como eu me envolvia com a meditação.

Uma atitude de inocência

Nossas ideias sobre meditação são geralmente coloridas pelo nosso condicionamento passado – sobre o que aprendemos, sobre o que pensamos que a meditação é, sobre onde achamos que ela nos conduzirá. A meditação pode servir a uma ampla gama de agendas.

Algumas pessoas meditam para uma melhor saúde física e emocional ou para tranquilizar seus corpos/mentes. Algumas pessoas meditam para abrir certos canais sutis de energia dentro de seus corpos, chamados geralmente de chakras. Algumas pessoas meditam para desenvolver amor, compaixão.

Algumas pessoas meditam para alcançar estados alterados de consciência. Outras pessoas meditam para ganharem algum tipo de poder espiritual ou físico, que chamam de siddhis.

E então tem a meditação para ajudar no despertar espiritual e iluminação. É esse tipo de meditação, a meditação que ajuda no despertar espiritual e na iluminação que eu me interesso, e é justamente nisso que a Verdadeira Meditação se baseia.

Não importa se a pessoa é nova na meditação ou se já medita a um longo tempo. O que eu percebi é que a história não faz qualquer diferença. O que importa é a atitude com que nos engajamos no processo de meditação.

A coisa mais importante é que nós venhamos a meditação com uma atitude aberta, uma atitude que é verdadeiramente inocente, que não é colorida pelo passado, pelo que ouvimos sobre meditação por meio da cultura, pela mídia ou pelas diversas tradições religiosas e espirituais. Precisamos abordar a noção de meditação de uma forma que é fresca e inocente.

Como um professor espiritual, eu encontrei muitas pessoas que meditaram por muitos e muitos anos. Uma das coisas mais comuns que eu escuto dessas pessoas é que, apesar delas terem meditado durante todo esse tempo, elas não se sentiam verdadeiramente transformadas.

A transformação interna profunda – a revelação espiritual – que a meditação oferece é algo que engana a muitas pessoas, até mesmo aqueles que já são praticantes por um bom tempo. Existem razões específicas e muito boas dos motivos pelos quais algumas práticas de meditação não levam a tal processo de transformação. A razão principal é simples e, por conta disso, fácil de ignorar: nós nos aproximamos da meditação com a atitude errada.

Nós realizamos nossa meditação com uma atitude de controle e manipulação e essa é justamente a razão pela qual nossa meditação nos leva ao que parece ser um beco sem saída. O estado desperto, o estado iluminado também pode ser chamado de o estado natural de ser. Como o controle e a manipulação possivelmente possa nos levar ao estado natural?

Abandonando o controle e a manipulação

A iluminação é, no fim, nada mais do que o estado natural de ser. Se você retirar toda a terminologia complexa e todo o jargão complexo, a iluminação é simplesmente retornar ao nosso estado natural de ser. Um estado natural, é claro, significa um estado que não é artificial (inventado), um estado que não requer esforço ou disciplina para ser mantido, um estado de ser que não é intensificado por qualquer tipo de manipulação da mente ou do corpo – em outras palavras, um estado que é completamente natural, totalmente espontâneo.

Aqui está uma das razões pelas quais a meditação muitas vezes leva a um beco sem saída. Muitas técnicas de meditação, quando você as olha de perto, são uma forma de controle. Enquanto a mente estiver controlando e guiando a experiência, é bem improvável que nos leve ao estado natural. O estado natural é aquele no qual não somos controlados pela mente.

Quando a mente é envolvida no controle e manipulação, pode levar a diversos estados de consciência: você pode aprender a como silenciar a mente ou a ter poder psiquicos. Você pode atingir muitas coisas através de um estilo de meditação que é orientado pela técnica e manipulação. Mas o que você não conseguirá fazer é chegar ao seu estado de ser natural e espontâneo.

Isso parece ser a coisa mais óbvia do mundo. Qualquer um pode dizer a você que você não chegará ao estado natural e espontâneo de ser através do controle interno e manipulação, porém isso frequentemente nos engana. O problema não é necessariamente no estilo de meditação e nem mesmo na técnica, apesar de que a técnica que usamos pode ter uma influencia profunda. O problema se encontra na atitude na qual nos engajamos na meditação. Se nossa atitude é uma atitude de controle e manipulação – se tivermos a abordagem de que iremos nos aperfeiçoar numa disciplina – então isso atrapalhará. Nesse caso, é na verdade o ego ou a mente que está meditando. E, é claro, quando estamos falando da iluminação ou do despertar espiritual, estamos falando sobre despertar da mente, despertar do ego. No que eu chamo de Verdadeira Meditação, essa tendência da mente de controlar e manipular é abandonada logo de início. Esse soltar/deixar ir do controle e da manipulação é a fundação da Verdadeira Meditação.

Quando a maioria das pessoas sentam para meditar, a primeira coisa que eles pensam é “Ok, como eu controle a minha mente?” É exatamente isso que eu venho chamando de manipulação. A manipulação é uma palavra forte, mas eu a estou usando para chamar a sua atenção, para chamar a sua atenção para o fato de que quando nos sentamos para meditar e nos perguntamos “Ok, como irei controlar a minha mente? Como irei ter paz? – o que a mente está realmente fazendo é perguntando: “Como eu controlo a mim mesmo para que eu me sinta melhor?” E você pode aprender a controlar a sua mente e acalmar sua mente e corpo aplicando uma técnica de controle. Por um tempo , isso pode fazer você se sentir bem. Mas quando controlamos nossas mentes com objetivo de obter um certo estado de paz ou tranquilidade, é como se você tentasse fazer alguém ficar quieto tapando a boca dessa pessoa com uma fita adesiva. Nesse caso, você foi bem sucedido em conseguir tal pessoa ficar quieta, mas você fez isso de uma maneira manipulativa. De que adianta isso? Assim que você retirar fora a fita, a pessoa voltara a falar não?

Eu acho que qualquer pessoas que tenha meditado saiba a experiência de meditar e atingir um certo controle da mente, um controle do corpo. Pode dar uma sensação boa e a experiência pode até ser profunda, mas quando você para de meditar e se levanta, imediatamente sua mente começa a tagarelar de novo. Nós experienciamos uma certa quietude por meio desse controle, mas logo que abrimos mão desse controle, a mente volta a disparar. Muitos meditadores enfrentam esse dilema. Nós atingimos um certo estado de paz quando meditamos, mas quando paramos de meditar a paz se vai.

A Real Meditação não é sobre ficar bom em uma técnica, é sobre abrir mão do controle. Isso é meditação. Todo o resto é uma forma de concentração. Meditação e concentração são duas coisas diferentes. A concentração é uma disciplina; a concentração é uma forma de permanecermos no controle e direcionarmos nossa experiencia. A meditação é deixar ir o controle, é soltar a necessidade de querer conduzir nossa experiencia de uma maneira em particular. A fundação da Verdadeira Meditação é deixar ir o controle.

Para um ser humano deixar ir o controle é uma coisa grandiosa. Parece fácil dizer “Só deixe ir o controle”. Mas, para a maioria dos seres humanos, a nossa estrutura psicológica inteira, nosso eu psicológico inteiro, nossos egos, são formados quase inteiramente por controle. Pedir para a mente ou para o ego para “Deixar ir o controle” é uma ideia revolucionária.

O que eu estou sugerindo na Verdadeira meditação é que olhemos, que olhemos a meditação como uma forma de investigação. A verdadeira meditação não é uma nova técnica. É mais como uma forma de investigar a si mesmo, em seu próprio corpo, mente e autoridade de sua própria experiencia o que acontece quando você abre mão do controle e permite que tudo seja como é. O que acontece quando você permite que a experiencia seja exatamente como ela é, sem tentar mudá-la. Ao invés de ser uma técnica, a Verdadeira meditação é uma forma de investigação. O que acontece quando deixamos ir o controle e a manipulação?

Movendo-se além do meditador

O segundo aspecto da Verdadeira meditação é a autoinquirição/autoinvestigação meditativa. A autoinvestigação é a prática de introduzir uma questão, uma poderosa questão espiritual no estado meditativo de mente.

Nós não estamos apenas perguntando qualquer pergunta banal e sim perguntas de real valor, questões que tem o poder de penetrar as camadas de condicionamento e atingir a nossa natureza essencial. A pergunta mais importante que podemos perguntar é “O que sou eu? Quem é o meditador?”. Essa questão corta todas as formas que o ego tenta controlar a experiencia. Ela pergunta: “Quem está controlando a experiencia?” “Quem está meditando?”.

Uma da essência da meditação é para irmos além do meditador – para ir além do ego/mente. Enquanto o meditador estiver no controle, existe pouca possibilidade de se mover além da mente e do ego. É por isso que, na Verdadeira Meditação, a prática é a de DEIXAR IR o meditador. O primeiro instante da meditação é um convite para deixar ir o controle, permitindo que tudo seja como é. Essa prática desengaja o meditador. Se o meditador estiver fazendo algo é simplesmente deixando ir o controle, deixar ir de querer modificar e mudar as coisas como elas são.

Quando eu digo meditador, é importante de entender que o meditador é aquele que está controlando. O meditador é aquele que está tentando, o manipulador, o que está fazendo esforço. E, na maior parte das meditações que vemos por ai, o meditador está sempre engajado. A mente está sempre se envolvendo com algo, fazendo algo e a mente ama ter algo para fazer (pois assim permanece no controle).

Mas, para a meditação ser relevante em termos de despertar espiritual, em termos de despertarmos para a verdadeira natureza de quem nós somos – nós precisamos ir além do meditador, além do controlador, além do manipulador

As técnica meditativas possuem algum valor?

Muitas pessoas (incluindo eu), vêm de diferentes tradições onde a meditação é ensinada como uma técnica. Somos ensinados várias formas de controle, como focar na respiração ou focar em várias outras partes do corpo.

Frequentemente somos ensinados a nos sentar em determinada postura, com nossas costas retas, respirando de uma maneira particular. Essas técnicas e disciplinas foram ensinadas por centenas e milhares de anos e eu não estou dizendo que elas não tenham mérito ou valor (elas possuem).

O que eu estou dizendo, no entanto, é que é somente quando começamos a deixar ir as técnicas, quando começamos a deixa ir desse foco, que podemos nos aproximar do nosso estado natural de ser.

Muitas vezes, essas técnicas obscurecem o nosso estado natural de consciência. Quando eu estou dando um retiro de meditação, eu frequentemente começo o retiro dizendo que eu sei que pessoas diferentes possuem diferentes formas de meditar e de centrar suas mentes – alguns seguem a respiração, outros repetem mantras, outros visualizam coisas, etc.

Eu digo para o grupo que está tudo bem eles se engajarem com essas técnicas no começo da meditação, como forma de estabelecer a mente no aqui e agora. Porém, eu também sugiro que em determinado período da meditação, nós também tiremos um tempo para soltar e deixar ir qualquer técnica que estamos usando. Se eu estou seguindo minha respiração, eu também experimento o que acontece quando eu deixo de seguir a minha respiração. O que acontece quando eu deixo de assistir a mente? Ou quando eu deixo de dizer o meu mantra? Essas práticas são uteis para nos ajudar a trazer nossa atenção no momento presente, este é o seu valor primário. Mas, depois que nossa atenção está no presente, então o convite é para deixar ir essas técnicas e começar a investigar o nosso estado natural de ser.

E eu também descobri que, se não tomarmos cuidado, essas tradições antigas e técnicas, muitas das vezes viram apenas disciplinas. Elas acabam assistindo suas respirações por anos e anos, se tornando especialistas em assistir suas respirações. Mas, no fim, a espiritualidade não é sobre assistir a respiração. É sobre acordar do sonho da separação a verdade da unidade. Trata-se disso, e podemos facilmente esquecer disso quando ficamos fissurados em uma técnica.

Então, nós podemos começar com um pouco de técnica, um pouco de assistir a respiração ou de dizer um mantra ou fazer uma visualização. Mas, minhas sugestão é que sempre nos movemos a uma curiosidade de querer saber o que acontece quando permitimos que tudo seja como é, e é justamente nesse ponto que transitamos entre o controle da mente para a Verdadeira Meditação. E isso é algo revolucionário.

A verdadeira meditação começa ao repousarmos no estado natural

Na Verdadeira Meditação, nós começamos da fundação de deixar tudo ser como é. Na Verdadeira meditação nós não estamos nos movendo em direção ao estado natural, ou tentando criar o estado natural – nós, já de início, começamos do estado natural. É isso que eu descobri depois de todos esses anos quando eu comecei a deixar ir do meditador, do controlador. O que eu percebi foi que a paz e a quietude que eu estava tentando obter já estavam aqui – tudo o que eu precisava fazer é para de tentar obtê-las. Tudo o que eu precisava fazer é sentar e permitir a minha experiência ser o que ela era.

Como muitas pessoas, quando eu me sentava para meditar, as vezes eu me sentia bem e calmo. Outras vezes eu me sentia agitado, ansioso. Outras vezes triste, outras feliz. O que eu percebi foi que quando eu permitia minha experiencia ser do jeito que ela era, sem tentar modificá-la, um senso subjacente de quietude e silencio começavam a penetrar naturalmente em minha consciência, que não era derivado de esforço ou disciplina.

Eu descobri que o estado natural, o nosso estado natural de ser, não é um estado alternado de consciência. Muitas pessoas associam meditação com estados alternados de consciência e isso é um grande equívoco que obscurece o potencial da meditação. O potencial de que estou falando é sobre o despertar espiritual, o despertar da realização do que você (e tudo o mais) realmente é, a Unidade de tudo.

Quando pensamos em meditação, nós precisamos deixar ir da ideia de que a Iluminação é um estado alternado de consciência que de alguma forma podemos obter. Existem muitos tipos de estados alternados de consciência. Muitas pessoas pensam que a iluminação é algum tipo de estado alternado de consciência. Isso é um grande equívoco. A iluminação é o estado natural de consciência, o estado inocente de consciência, o estado que não é contaminado pelo movimento do pensamento, que não é contaminado pelo controle ou manipulação da mente.

Nós não podemos chegar a essa verdade através de manipulação. Nós não podemos no mover além da falsa identidade egoica pelo desejo pelo controle. Nós só podemos começar a permitir a consciência a despertar de sua identificação com o pensamento e sentimento, com o corpo, mente e personalidade, ao nos permitirmos descansar no estado natural desde o início.

O ato último de fé

O despertar espiritual não vem através de nenhum tipo de entendimento intelectual. Nós não podemos chegar a nossa verdadeira natureza através de palavras, através de conceitos, através de ideias ou ideologias. Nenhuma dessas formas é capaz de revelar a nossa verdadeira natureza.

Isso não significa que a mente também não participa de alguma forma no despertar – isso também é um equívoco. A mente também desempenha um papel importante.

Eu não estou sugerindo que a mente e o pensamento sejam o problema. É o nosso apego a mente que é o problema. É um busca ilusória tentar olhar para conceitos e ideias como tentativas de achar a verdade, a paz, a felicidade. Quando deixamos ir a mente pensante, nos tornamos receptivos ao insight, a revelação, um entendimento/sabedoria intuitiva originada de um ponto além da mente.

E, que nem vimos anteriormente, para ganharmos acesso a esse tipo de insight, nós começamos por deixar ir o controle, nós entramos no estado natural de ser. Num sentido, a Verdadeira meditação é o maior ato de fé. Pois, sentar e permitir que tudo seja como é, deixando ir o controle e manipulação, é, em si, um grande ato de fé.

O que acontece quando deixamos ir o controle? Quando deixamos tudo ser exatamente como é? Essas são questões fundamentais da espiritualidade. Até que sejamos capazes de permitir que tudo seja como é, da forma mais profunda possível, nós ainda estaremos engajados em algum tipo de controle. Na verdadeira espiritualidade e na verdadeira meditação, nós estamos deixando ir o controle logo de início. Nós não estamos investindo energia no ego, na mente, no controlador, no manipulador. Nós estamos deixando ir o esforço, o que é algo revolucionário para a maioria de nós.

Então quando eu digo que estamos deixando ir o controle, que estamos permitindo que tudo seja como é, é a mesma coisa que dizer que estamos deixando de fazer esforço. Nós fomos ensinados que para entrar em um estado natural de consciência, nós precisamos aprender a controlar e disciplinar a nós mesmos, mas o que eu estou dizendo é o oposto – você chega no estado natural ao deixar ir o controle e esforço. É tudo muito simples. Sente-se, deixe tudo ser como é.

Você pode até mesmo perguntar a si mesmo, logo de início: “Não é verdade que a paz e quietude que eu estou tentando obter por meio da meditação já estão aqui e agora?” Então, procure, investigue por si mesmo. Nós podemos chegar a conclusão de que a paz e a quietude são realmente nossos estados naturais, que já estão acontecendo.

Esforço sem esforço

Meditar em uma atitude sem esforço não é a mesma coisa que ser preguiçoso. Meditação tem a ver com vitalidade, vivacidade, alerta. Sem esforço não significa preguiça, significa esforço o suficiente para permanecer em um estado de vivacidade, alerta, presente, aqui e agora. Esse é o esforço sem esforço.

Nossa tendência natural é despertar

Quando nós meditamos dessa forma que estou descrevendo, quando deixamos ir o controle e permitimos que tudo seja como é, nossa tendência natural é despertarmos. Nós, biologicamente e psicologicamente, estamos nos voltando em direção ao despertar.

Deixe tudo dentro de você se revelar a você

Já que a natureza do nosso ser inteiro é despertar, quando nós permitimos que tudo seja como é, o que acaba acontecendo é que o material reprimido em nossa psique emerge.

Na verdade, muitos dos estudantes espirituais, inconscientemente, usam das técnicas meditativas para manterem o material de suas psiques reprimidos. Eles podem não perceber que estão fazendo isso, mas é exatamente isso que está acontecendo.

Quando deixamos ir e realmente nos abrimos e permitimos que as coisas sejam como elas são, não é incomum que certos materiais reprimidos venham para cima, o que pode ser muito chocante.

Do nada, você pode experienciar raiva na sua meditação, ou tristeza. Você talvez perceba que várias memórias virão para a superfície de sua consciência e se revelarão para você.

Quando nós realmente deixamos tudo ir, o que precisa subir para a superfície começa a subir para a superfície. A mente talvez não queira que esse material suba para a superfície – como eu disso, muitas pessoas utilizam de disciplinas e prática espirituais para manter sua inconsciência suprimida. Quando paramos de suprimir, nossa inconsciência começa a se revelar por conta própria.

O que nós precisamos fazer com o material inconsciente que vier a superfície? Nada. Nós simplesmente deixamos ele se revelar. Ele não precisa ser analisado. O que vier a tona, na maioria das vezes, é o conflito não resolvido dentro de nós – emoções que nós nunca nos permitimos experienciar totalmente, experiencia que nunca nos permitimos experienciar plenamente.

Esse material não resolvido dentro de nós está implorando para ser experienciado totalmente, sem ser jogado no subconsciente novamente. Então, quando o material reprimido vier a tona, nos precisamos dar a permissão dele subir sem suprimi-lo.

Sem analisar, nós simplesmente permitimos esses sentimentos serem experimentados no corpo, em nosso ser, até que eles se dissolvam por conta próprio, em seu devido tempo. O que você irá descobrir, se você fizer isso, é que qualquer material reprimido (seja ele emocional, psiquico, físico, espiritual) vira a tona, emergira para ser experienciado e, logo em seguida, se dissolverá.

Se ele não passar e ir embora, você saberá que existe alguma parte sua resistindo ou negando esse material – o que é uma coisa muito boa quando você conhece reconhecer em si mesmo, pois agora você também pode deixar ir essa tendência. Nós despertamos por deixar tudo dentro de nós mesmos se revelar, ser sentido, ser experienciado e conhecido.

Isso é algo muito importante de se entender. É muito fácil usar técnicas meditativas para suprimir nossa experiencia humana, para suprimir coisas que nós não queremos sentir. A Verdadeira Meditação, no entanto, é o espaço em que tudo é revelado, tudo é visto, tudo é experienciado.

O medo é uma porta de entrada

Eu frequentemente sou perguntado sobre o medo. Ele é comum no caminho espiritual. Quando as pessoas sentam para meditar, não é incomum para o medo vir a tona em algum ponto. Principalmente nesse estilo de meditação, em que nós estamos deixando ir o controle e a manipulação.

Para a maioria dos seres humano, isso ira fazer com que surja um certo medo, pois a mente egoica tem muito, muito medo de deixar ir o controle e experienciar abertura.

Quando a mente faz o contato com o desconhecido (que é algo que não entende) muitas das vezes ela produz medo. Mas na espiritualidade é importante relembrarmos que o medo não necessariamente significa perigo ou ameaça. Na verdade, o medo significa que estamos indo a um lugar muito mais profundo em nós mesmos.

Então, se o medo surgir, a coisa mais sábia a se fazer é simplesmente deixá-lo vir a tona. SINTA o medo. Note que a mente tende a criar histórias e medos a redor do medo e reconheça que essas histórias não são verdadeiras. Mas, apenas deixe o medo ser experienciado, pois o medo é uma porta de entrada – é algo que você precisa enfrentar.

Viva da mesma forma que você medita

Sentar-se em meditação é uma coisa linda de se fazer. Em minha experiencia, sentar-se por 20min a 40min por dia é algo que faria muito bem a qualquer pessoa. Se você se sentir atraido sentar-se por mais tempo, então sente-se. Talvez você queira ficar 1h, ou 2h. Novamente, o que importa é você se sentir atraido (não a sua mente, o seu coração).

Mas, quando eu falo sobre meditação, eu não estou falando somente sobre algo que fazemos quando estamos sentados de maneira formal. A meditação tem a ver com a vida. Se nós somente aprendermos a meditar bem quando estamos sentados, isso não é o bastante. Mesmos que você se sente 3h por dia, ainda restarão 23h do seu dia em que você não está sentado.

O que eu descobri ao longo dos anos é que até mesmo bons meditadores deixam a meditação para trás quando levantam para começar o seu dia. Quando meditam, eles conseguem deixar ir suas ideias, suas crenças, suas opiniões e julgamentos. Eles conseguem deixar tudo isso ir e meditar muito bem. Mas, quando eles acabam de meditar, eles sentem a necessidade de pegar toda aquela bagagem novamente.

A verdadeira meditação, na verdade, é algo que vive com nós. Nós podemos fazê-la a todo o momento, qualquer lugar. Você pode estar andando e permitir que tudo seja como é. Você pode ter a prática de se permitir sentir o que está sentindo.

É importante que a meditação não seja vista como algo que acontece somente quando você está sentado em um lugar quieto. Se não, a espiritualidade e a nossa vida diária tornam-se duas coisas separadas. Essa é a ilusão primária – de que existe algo chamada “minha vida espiritual” e algo chamada de “minha vida diária”. Quando acordamos para a realidade, nós percebemos que elas são uma coisa só.

E se a fundação de sua vida, e não somente a fundação de seu tempo meditando, tornasse permitir que tudo seja como é? E se toda a sua vida virasse o “permitir que tudo seja como é?”. Se você fizesse isso, sua vida se tornaria interessante.

Quando você começa a se abrir e pensar na meditação como uma abordagem a própria vida, tudo se torna interessante. Nós paramos a resistir a nossa experiencia. E quando paramos de resistir a experiencia, começamos a descobrir algo muito potente e poderoso.

Nós começamos a descobrir a coisa mais essencial, que é a verdade de nosso ser. Nós começamos a descobrir que a nossa natureza essencial está sempre permitindo que tudo seja como é. É por isso que meditamos dessa forma, pois é isso que a consciência já está fazendo, está permitindo que tudo seja como é. A consciência, em si, não está em resistência. A consciência não está em oposição ao que é. A consciência está sempre permitindo que tudo seja como é.

Eu descobri que uma das chaves para sermos realmente livres é vivermos da mesma forma que meditamos. Quando nós realmente permitimos que tudo seja como é, nessa atitude interna de desapego, existe um espaço muito fértil, um estado muito potente de consciência. Nesses momentos de desapego, algo de criativo pode vir até você. Esse é o espaço na qual o insight surge, na qual a revelação surge. Então, não se trata apenas de deixarmos que tudo seja como é como o objetivo final – se você fizer disso um objetivo, você já se perdeu.

O ponto aqui não é permitir que tudo seja como é, essa é apenas a BASE, a atitude subjacente. A partir dessa atitude subjacente, muitas coisas tornam-se possíveis. Esse é o espaço na qual a sabedoria surge. É o espaço em que recebemos revelações, o que precisamos ver.

Autoinvestigação Meditativa (Parte 2)

Depois de termos traçado a fundação de permitir que tudo seja como é, da forma mais profunda e simples possível, e tivermos tido um gosto de como essa experiencia é, então, o próximo elemento da meditação entra em jogo. Esse elemento da meditação é a autoinvestigação. É a parte da meditação que frequentemente é ignorada, porém é muito importante.

Se nós apenas pararmos com “permitir que tudo seja como é”, por mais profundo que isso possa ser e por mais libertador que isso possa ser, essa abordagem pode levar a uma estado de desengajamento interno. Investigação é uma forma em que usamos a energia de nossa natural curiosidade, a energia do desejo espiritual em si, para cultivarmos um insight radical da natureza do nosso ser.

Como eu descobri a autoinvestigação meditativa?

Em um ponto de minha jornada, eu percebi que tinha todas essas questões, questões que eu acho que muitas pessoas possuem sobre suas práticas, sobre a espiritualidade e sobre a vida. Por exemplo “O que é a renuncia?”; “O que é meditação?”; “O que sou eu?” Foi assim que eu descobri a autoinvestigação meditativa.

O que é uma pergunta espiritualmente poderosa?

A autoinvestigação meditativa é a arte de perguntar uma pergunta espiritualmente poderosa. E uma pergunta que é poderosa sempre aponta de volta para nós mesmos. Pois, a coisa mais importante que leva ao despertar espiritual é descobrirmos quem e o que verdadeiramente somos, para acordarmos desse estado de sonho, esse trance de identificação com o ego.

Eu quero salientar que, sem a autoinvestigação, a meditação pode levar a uma espécie de desengajamento interno. Nós usamos a inquirição para “quebrar” as camadas de condicionamentos e programações que nossa mente está apegada e identificada.

Como eu disse, a coisa mais importante na investigação é fazermos a pergunta certa. Tem que ser uma questão que seja genuína e que você tenha interesse real em descobrir sua resposta. Qual é a pergunta mais importante para você? Qual pergunta você esta tentando responder?

Quando você sabe qual pergunta é a mais importante, então você pode começar o processo de autoinvestigação. Você pode se pergunta essa pergunta, de uma forma quieta e meditativa, e ver o que acontece.

O que ou quem sou eu?

Todos nós já ouvimos o ensinamento “Olhe para dentro”, porém, muitos de nós ainda estamos buscando fora de nós mesmos. Mesmo quando temos perguntas espirituais, elas geralmente são focadas fora de nós mesmos. O que é Deus? Qual é o significado da vida? Por que eu estou aqui? Essas perguntas podem ser relevantes a personalidade, mas ainda não são as questões mais intimas.

A questão mais intima que podemos perguntar (e a que possui mais poder espiritual) é: “O que ou quem sou eu? Quem é esse eu que está vivendo essa vida, que está aqui e agora? Quem é esse eu que está no caminho espiritual? Quem está meditando? Quem sou eu, verdadeiramente?

É essa questão que começa a jornada da autoinvestigação, descobrir, por si mesmo, quem você verdadeiramente é. Então, o primeiro passo é ter uma questão espiritualmente poderosa, como “Quem ou o que sou eu?”. O passo dois é saber como se fazer essa pergunta.

Eu notei em minha jornada que poucas pessoas sabem como se fazer uma pergunta espiritual poderosa. Se nós não soubermos como se fazer tais perguntas, então só ficaremos perdidos em nossas mentes. Nós podemos ficar sentados e pensando infinitamente sobre quem nós somos.

Podemos ler livros espirituais, escutar discursos religiosos, etc. Podemos fazer isso eternamente, porém só acumularemos mais pensamentos, ideias e crenças – não o que realmente precisamos, um FLASH de insight e revelação, um flash que nos desperta para a verdadeira natureza de nosso ser!

E a autoinvestigação realmente nos ajuda a cultivar esse flash. Então, como se perguntar essas questões? E como descobrimos quem nós realmente somos?

O caminho da subtração

Antes de nós descobrirmos quem nós somos, nós precisamos primeiro descobrir o que nós não somos. Se não, nossas suposições vão continuar afetando nossa investigação. Nós podemos chamar esse processo de o caminho da subtração. Na tradição Cristã, eles chama isso de Via negativa, o caminho negativo.

Na tradição Hindu do vedanta, eles chamam isso de Neti-Neti, que significa “Nem isto, nem aquilo”. Esses são todos caminhos da subtração, caminhos para descobrirmos quem nós somos ao descobrirmos o que não somos.

Nós começamos por olhar as suposições que temos sobre quem nós somos. Nós temos muitas e muitas suposições que nem percebemos que as temos. E nós começamos a olhar para as coisas mais simples sobre nós mesmos. Por exemplo, nós olhamos as nossas mentes e notamos que existem pensamentos. Claramente existe algo ou alguém que está notando esses pensamentos. Você pode não saber o que é, mas você sabe que está lá. Pensamentos vem e vão, mas aquilo que está testemunhando os pensamentos permanece.

Se pensamentos vem e vão, então eles não são exatamente o que você é. Começar a perceber que você não é os seus pensamentos é algo muito significante, pois a maioria das pessoas assume que elas são o que pensam. Elas acreditam serem seus pensamentos.

Porém, uma simples observada em sua própria experiencia revela que você é a testemunha dos seus pensamentos. Quaisquer pensamentos que você tenha sobre si mesmo não são quem você verdadeiramente é. Existe algo mais primário que está observando os pensamentos.

Da mesma forma, existem sentimentos. Todos nós temos sentimentos emocionais: alegria, tristeza, ansiedade, paz. Todos nós temos sentimentos no corpo, sejam sentimentos de energia (contração, abertura) ou um formigamento no seu pé. Existem vários sentimentos e sensações e, também, existe a testemunha desses sentimentos. Algo está testemunhando e notando todo sentimento que você tem. Então, você tem sentimentos e você tem a consciência dos sentimentos. Sentimentos vem e vão, mas a consciência dos sentimentos permanece. E apesar de não precisarmos negar ou rejeitar os nossos sentimentos que experienciamos, é importante reconhecer que a nossa verdadeira e mais profunda identidade não é um sentimento. Não pode ser, pois existe algo mais primário, antes do sentimento surgir: a consciência do sentimento.

A mesma coisa é verdadeira para as crenças. Nós temos muitas crenças e nós temos a consciência dessas crenças. Elas podem ser crenças espirituais, sobre a politica, sobre você mesmo, sobre o mundo, etc. Crenças são pensamentos que assumimos ser verdadeiros. Todos nós podemos ver que nossas crenças mudaram conforme crescemos ao longo da vida.

Crenças vem e vão, mas a consciência das crenças é anterior as crenças, é mais primária. É facil de vermos, então, que não somos nossas crenças. Crenças são algo que testemunhamos, algo que assistimos e notamos. Mas, crenças não nos dizem quem ou o que a testemunha é. A testemunha, o observador é anterior as crenças.

A mesma coisa acontece para o nosso ego/personalidade. Todos possuímos um ego e todo mundo tem uma personalidade. Nós tendemos a achar que nós somos o ego, que somos nossa personalidade. Porém, assim como os pensamentos, sentimentos e crenças, nós podemos ver que existe uma testemunha do nosso ego/personalidade.

Existe uma personalidade/ego chamada “você” e existe uma testemunha dessa personalidade/ego. A testemunha da personalidade/ego é anterior a personalidade, está apenas notando, sem julgar, sem condenar.

Aqui, nós começamos a nos mover em direção a algo mais íntimo. A maioria das pessoas acreditam que elas são os seus egos e personalidades. Mas uma simples disposição de olhar para a sua experiência revela que existe a personalidade e existe uma testemunha da personalidade. Então, a sua natureza mais essencial e intima não pode ser sua personalidade. Seu ego/personalidade está sendo observado por algo muito mais primário, está sendo observado pela consciência.

Com isso, chegamos a consciência em si. Nós notamos que existe a consciência. Todos têm consciência. Se você está lendo essas palavras agora, é a consciência que está interpretando elas. Você está consciente do que pensa. Você está consciente do que sente. Então, a consciência está presente. Não é algo que precisa ser cultivada. Não é algo que precisa ser manufaturado. A consciência simplesmente é. É aquilo que torna o conhecer possível, que nos permite experienciar o que está acontecendo.

Quem está consciente?

Geralmente nós pensamento, inconscientemente, que “Eu estou consciente”, que eu sou aquele que está consciente, que a consciência é algo que pertence a mim. Nós presumimos ter uma entidade chamada “eu” que está consciente. Porém, quando começamos a investigar isso de forma meditativa, silenciosa e simples, nós começamos a ver que, apesar de existir consciência, nós não conseguimos encontrar o “eu” que está consciente.

Nós começamos a ver que isso é uma suposição que a mente foi ensinada a fazer. Que “eu” sou aquele que está consciente. Quando você se volta para dentro e procura por quem ou o que está consciente, você não consegue “encontrá-lo”. Só existe consciência, não existe um “eu” que está consciente.

Dessa forma, nós ainda estamos subtraindo nossa identidade através dessa investigação. Ao olharmos para o que nós não somos, nós estamos “retirando” nossa identidade do pensamento, do sentimento, da persona, do ego, corpo, mente. Nós estamos puxando nossa identidade de volta dos elementos exteriores de nossa experiência para nossa natureza essencial.

Conforme investigamos a suposição “eu sou aquele que está consciente”, nós descobrimos, de novo e de novo, que não podemos descobrir quem é aquele que está consciente. Onde está esse “eu” que está consciente? É nesse momento preciso, no momento em que percebemos que não conseguimos encontrar uma entidade chamada “eu” que possui e retém a consciência, que começa a nos ocorrer que talvez, quem nós verdadeiramente somos é a própria consciência.

A consciência não é algo que obtemos ou possuímos. A consciência é quem nós somos. Para a maioria das pessoas isso ira parecer algo radical. Isso porque estamos muito condicionados a nos identificar com nossos pensamentos, com nossos sentimentos, com nossas crenças, com nossos egos, com nossos corpos e com nossas mentes. Nós somos ensinados a nos identificar com essas coisas.

Porém, com essa investigação, nós começamos a ver que algo existe algo anterior que os pensamentos, antes da personalidade, antes das crenças, algo que estamos chamando de consciência. Através dessa investigação podemos perceber que nós somos a consciência.

Isso não significa que não existem pensamentos. Isso não significa que não exista corpo. Nós não estamos negando o ego, a personalidade, a crença, etc. Isso não é uma negação dos elementos exteriores. Estamos apenas descobrindo nossa natureza essencial.

Pode ser algo muito transformador perceber que você não é aquilo que pensava ser, que você não é suas crenças, que você não é sua personalidade, que você não é seu ego. A natureza radical desse insight é que a consciência não é algo que eu possuo, ou de que eu preciso de disciplina para tê-la. A consciência é o que você é, é a essência do nosso ser.

Um reconhecimento transcendente

Esse autoreconhecimento não pode ser entendido pela mente. A mente pode aceitar ou negar que você é a consciência mas, da mesma forma, não pode compreender isso.

O pensamento não pode compreender o que está além do pensamento. É por isso que chamamos isso de um reconhecimento transcendente, uma revelação transcendente.

Para algumas pessoas, tal reconhecimento pode vir como um flash instantâneo, em que ela se reconhece como a consciência que está assistindo do lado de dentro o tempo todo. É importante entender que isso não é algo que a mente decide. É um flash de revelação.

Um dos ponteiros mais simples que eu posso lhe dar é você se lembrar que isso é um processo de subtração. Nós podemos nos fazer as perguntas “Quem ou o que sou sou?” ou “Eu sou esse pensamento?” e essa pergunta, obviamente, se origina da mente. Mas, depois que nós fizemos algumas dessas perguntas, é muito importante que não fiquemos na mente.

Um exemplo é quando você pergunta a si mesmo “O que sou eu?”. A primeira coisa que as pessoas percebem é que elas não sabem quem elas são. Então, as pessoas tentam recorrer a mente para que ela lhes forneça a resposta. Mas a primeira coisa que a sua mente reconhece é que você não sabe. Na investigação espiritual isso é uma informação muito útil “Eu não sei quem eu sou” “Eu não sei o que eu sou”.

Quando você reconhece isso, você pode ou começar a pensar sobre o assunto ou você pode sentir. Como é você sentir, no seu ser, que você não sabe quem você é? Como é quando você olha para dentro para tentar encontrar quem você é e você não encontra uma entidade chamada “você”? Como esse espaço aberto é para você? Sinta-o no seu corpo. Essa é a verdadeira investigação espiritual.

Harmonia natural

Como eu disse anteriormente, é importante perceber que apesar de estamos “retomando” de volta nossa identidade do pensamento e personalidade, nós não estamos negando ou nos dissociando desses elementos exteriores da experiência. A investigação não é a prática de querer afastar ou evitar, é simplesmente uma forma de despertarmos do sonho da separação.

Porém, até mesmo quando despertamos, ainda existe um corpo, uma personalidade, um ego rudimentar. A diferença é que quando reconhecemos nós mesmos como a consciência em si, nossa identidade pode começar a descansar em sua essência. Quem nós somos não é mais encontrado no corpo, na mente, na personalidade ou em pensamentos e crenças. Quem nós somos descansa na fonte.

Quando descansamos na nossa essência, nosso corpo, mente e personalidade e sentimentos vem em harmonia.

A Grande inclusão

A autoinvestigação começa com a descoberta do que nós não somos, mas não é ai que ela termina. Depois do caminho da subtração, vem o que eu chamo de a grande inclusão.

Depois de termos extraído nossa identidade do pensamento, crença, personalidade, ego e descoberto que existe algo mais primário, a identidade começa a descansar na consciência em si.

É claro que nós não devemos deixar a mente de fixar na ideia de que “Eu sou consciência”. Essa ideia pode ser útil mas também é uma fixação limitante.

Claro que é muito mais libertador se identificar como sendo consciência do que se identificar como uma forma de pensamento, ego ou personalidade. Mas não devemos ficar presos em um novo conceito, em uma nova forma de nos identificarmos. “Consciência” é apenas uma palavra. Uma outra palavra para consciência pode ser Espirito.

Consciência, ou espirito, é algo que não tem forma, sem cor, gênero, idade ou crenças. Ela transcende tudo isso. A consciência ou espirito significa um estado de ser, um senso de vivacidade que transcende toda a nossa forma.

Se você olhar internamente, você pode notar em você mesmo, neste momento, que a consciência (espirito) não está resistindo o pensamento. Existe o pensamento, mas a consciência não está resistindo o pensamento.

Existe o sentimento, mas a consciência não está resistindo o sentimento. Existe o ego/personalidade mas a consciência não está resistindo ao ego/personalidade. A consciência não está tentando mudar as coisas, a consciência não está tentando consertar as coisas. Você pode começar a notar que existe essa presença da consciência dentro de você, que não está tentando mudara sua humanidade. Ela não está tentando mudar você (nem os outros).

Essa consciência inclui tudo. É um estado de ser em que tudo é perfeito do jeito que é. É muito incrivel um ser humano perceber que sua verdadeira natureza não está tentando mudar a si mesma. Isso permite que possamos descansar, não nos sentimos mais separados de nossa Fonte. Passamos a nos sentir inteiros internamente, não nos sentimos mais divididos.

Quando começamos a nos render a consciência ou espírito, nós começamos a reconhecer que isso é quem nós verdadeiramente somos. Nós começamos a ver que tudo na existencia é uma simples manifestação do espirito, seja a cadeira que você está sentado, o sapato que você está usando, o seu corpo, seus pensamentos, sua mente, seu ego – tudo é uma expressão do espirito.

Quando nos identificamos com todas essas formas é ai que o sofrimento se inicia! Mas, com a autoinvestigação e a meditação, nossa identidade começa a retornar a sua fonte/verdadeira casa da consciência.

Tudo passa a ser visto como manifestação do espirito, incluindo a sua humanidade, com todas as suas forças e fraquezas e “estranhezas” divertidas. Você descobre que a sua humanidade não é separada da divindade dentro de você.

Eu chamo isso de a grande inclusão pois você começa a perceber que a sua verdadeira natureza inclui toda a sua experiência humana. É isso que o seu corpo e mente são – uma extensão do espirito nesse espaço/tempo.

Note o que em você permanece constante

Para algumas pessoas, esse reconhecimento de que somos a consciência em si pode parecer um pouco abstrato. Para aqueles que já tiveram esse reconhecimento, ele não é, pois é sua experiência viva. Se isso parece abstrato para você, eu posso sugerir algo muito simples: tente notar o que existe sobre você que sempre esteve presente, durante toda a sua vida. Não importa o quão velho ou novo você é, note que ao longo de sua vida, coisas mudaram: seu corpo mudou, sua mente mudou, seu ego mudou, suas crenças mudaram, sua personalidade mudou, etc.

Tudo isso esteve sob um estado de fluxo ao longo da vida. Porém, desde sempre, desde que você adquiriu a linguagem, você sempre se referiu a si mesmo como “Eu”: “Eu sou isto”, “Eu penso nisto”; “Eu quero isto”. Enquanto tudo o mais continua a mudar e se transformar, o “Eu” que você se refere sempre esteve lá. Quando você diz “Eu” é o mesmo “Eu” quando você era criança. O exterior mudou, os pensamentos mudaram, o corpo mudou, os sentimentos mudaram. Mas o “Eu” não mudou.

No nível intuitivo, existe um conhecimento que permanece o mesmo que sempre foi, e você se refere a esse conhecimento quando diz “Eu”. Essa é a sua parte sagrada, essa é a sua natureza essencial. Mas tal “Eu” não tem forma. É a natureza do espírito ou consciência.

Mas esse eu não é o que a mente pensa que é. A meditação investigativa lhe permite descobrir por si mesmo o que ou quem esse “eu” realmente é.

Ninguém pode forçar esse flash de reconhecimento no seu ser. Ele acontece espontaneamente, por si mesmo. Mas o que nós podemos fazer é criar uma base, uma condição adequada para que esse flash de reconhecimento seja possível.

Quando esse despertar para a nossa verdadeira natureza ocorre, ele pode ocorrer por um momento, ou pode acontecer por um período maior de tempo, ou pode ser permanente. Qualquer que seja o caso, está tudo bem. Quem você é é quem você é, você não pode perder a si mesmo, não importa qual seja a experiência.

Mesmo que você tenha tido uma abertura e tenha percebido a sua verdadeira natureza e depois você pensou que esqueceu dela, você não perdeu nada!

Portanto, esse convite é para você reconhecer a realidade subjacente, aquilo que nunca muda. O grande sábio Ramana Maharshi disse: “Deixe o que vier vir, deixe o que for ir embora. Descubra o que permanece”

Adentrando o mistério

Não é necessário sentar de uma maneira forma para a praticar a autoinvestigação. Você pode simplesmente se pergunta “O que sou eu?”, em qualquer lugar. É uma questão bem simples: “Quem sou eu?” Quem sou eu além de um pensamento e uma memória?”. Quando a mente faz essa pergunta, a mente olha internamente. E o que a mente encontra? A mente não encontra nada!

Ela não encontra um “novo alguém, pois um “novo alguém” seria apenas mais um pensamento ou uma imagem mental. Então, a mente procura internamente e diz “Não sei”. E esse é um momento muito misterioso para a mente. Nesse momento, você está em um estado de desconhecimento. Você está conectado com o mistério de você, ao invés da ideia de você.

A meditação investigativa pode ser uma forma extremamente rápida, simples, instantânea de lhe introduzir ao mistério de você. Ela faz você retornar ao desconhecido muito rapidamente. Quando você chegar lá, você pode repousar no desconhecido – dessa forma, essa investigação levará você a um espaço de abertura. E a realização de que você é esse espaço é o que chamamos de realização espiritual.

Começando a jornada espiritual

O começo de jornada espiritual é o que eu chamo de “a vida após o despertar”. Ao invés de viver uma vida pelo sendo do ego separado, da ilusão da personalidade egoica, a vida é vivida pela perspectiva do reconhecimento consciente de nossa verdadeira natureza como consciência. E isso é uma vida totalmente nova. É um começo. É o fim da identificação com os pensamentos, sentimentos e com a personalidade egoica – mas, ao contrário do que muitas pessoas pensam – não é o fim da espiritualidade.

Na verdade é apenas o começo da verdadeira jornada espiritual, o começo de uma nova forma de viver a vida. É o começo de uma descoberta sem fim de como viver com esse reconhecimento de que você é um espírito aparecendo em uma forma humana.

Esse é o núcleo da espiritualidade: despertar para quem ou o que você verdadeiramente é. Em minha experiência, eu descobri dois elementos que são muito importantes quando se trata do despertar. O primeiro é desenvolver uma atitude meditativa, em que deixamos ir o controle, de uma forma muito profunda, e permitimos que tudo seja como é.

O segundo elemento é um engajamento sério em relação a nossa curiosidade inerente e inteligência através da autoinvestigação meditativa. Quando combinados, eles providenciam a energia necessaria para produzir um flash de reconhecimento em você sobre a sua verdadeira natureza.

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