“Deus me mostre a verdade, mesmo que ela doa“
Uma coisa fundamental que precisamos enfrentar no processo de nos tornarmos mais conscientes e autorrealizados é a tendência de querermos evitar o desconforto, isso porque para vivermos conscientemente, temos que ter a disposição de confrontar nossos medos e entrar em contato com nossas dores não resolvidas.
Muitas pessoas ficam presas em um ciclo de negação em que não querem olhar para a escuridão que existe dentro delas (seus pecados, traumas, comportamentos inconscientes) e somente ficam perseguindo experiências “positivas”, que geram certo conforto e distração através de estimulações superficiais sem fim (tudo numa tentativa de não trazer consciência a situação devastadora que se encontra seu mundo interno e externo).
O padrão básico que parecemos operar é o seguinte: primeiro nós evitamos ver o que precisamos enxergar (algo que está disfuncional em nossas vidas) pois não queremos sentir desconforto. Então essa evitação produz mais problemas para nós (que também não queremos olhar pois isso causará dor). Então essa nova evitação produz mais problemas (que também não examinamos) e assim por diante. Camadas de evitação sobre camadas de evitação, essa é a condição da maioria dos adultos.
“Tudo aquilo que não enfrentamos em nossas vidas acaba se tornando o nosso destino”
Carl Jung
Porém, como Adyashanti Explica no seu livro “O desperta autêntico”:
“Não é a busca por estados cada vez maiores de felicidade e bem aventurança que leva a iluminação, mas sim o desejo pela Realidade e a insatisfação de viver uma vida inautêntica. Tal despertar, eventualmente traz um senso de paz profunda, amor e bem estar, mas isso são subprodutos do estado desperto, não o objetivo.“
Adyashanti
Ele continua dizendo que uma das maiores ilusões que podemos nos fixar no caminho espiritual é a de sempre querer perseguir estados emocionais positivos, pois isso pode ser uma forma de nos alienarmos de nossos defeitos de caráter e áreas de nossa vida que operamos de maneira autocentrada e negativa.
“É importante que saibamos o que não é o despertar, de forma que não mais corramos atrás de seus subprodutos. Precisamos abrir mão de perseguir os estados emocionais positivos por meio da prática espiritual. O caminho do despertar não tem a ver com emoções positivas. Ao contrário, a iluminação pode não ser simples ou positiva, em absoluto. Não é fácil ter nossas ilusões esmagadas. Não é fácil abandonar percepções mantidas por tanto tempo. Podemos experimentar grande resistência para ver claramente até mesmo as ilusões que nos causam imensa dor.“
Adyashanti
Queira enxergar a verdade sobre sua vida
“Cedo ou tarde, a medida que ficamos mais despertos, descobrimos que há cada vez, descobrimos que há cada vez mais pressão para encontrar e lidar com essas áreas da vida que temos evitado, onde não somos totalmente conscientes. Isso é contrário a ideia de o despertar ser simplesmente uma transcendência da vida, o encontro de um porto seguro em alguma experiência interna onde não temos que lidar com a vida como ela é. “
Adyashanti
Na entrada do Oráculo de Delfo estavam escritas as palavras “Conheça a ti mesmo”. Jesus veio e acrescentou um sentido de urgência e conseqüência à ideia antiga quando disse: “Se você trouxer o que está dentro de você, o que você trouxer o salvará. Se você não trouxer a tona o que está dentro de você, o que você não trouxer irá destruir você.” (Evangelho de Tomé)
Portanto, como vimos, é muito importante que você deseje a VERDADE acima de tudo! Acima até mesmo do que querer se sentir bem o tempo todo. Você deve querer ver e enxergar todas as partes do seu ser, sem evitá-las. Você deve querer enxergar todos os seus defeitos, suas inseguranças e medos! Dee querer enxergar todas as suas ilusões e falsidades.
Queira saber a verdade sobre quem você é (mesmo que ela doa e seja desconfortável), pois é somente essa verdade que te libertará! É somente trazendo luz a sombra que ela deixa de existir!
Como Adyashanti explica:
“Esse permitir que tudo se torne mais e mais consciente é uma grande parte do processo que ocorre após o despertar espiritual. Você precisa estar disposto, você deve querer ver tudo. Quando quiser ver tudo, irá ver tudo”
Como professor, uma das coisas que descubro relativamente rápido sobre os alunos é se eles estão interessados no que é real, se buscam realmente a verdade, ou se querem no fundo apenas se sentir melhor. O processo de descobrir a verdade pode não ser um percurso em que nos sintamos cada vez melhores. Pode ser um processo durante o qual precisamos olhar as coisas de maneira honesta, sincera e verdadeira, e fazer isso pode ser fácil ou não.
No final, descobrimos que a iluminação, se for verdadeira e real, não nos permite evitar nada. De fato, a perspectiva iluminada dificulta bastante e, em última instância, impossibilita virar as coisas para quaisquer partes de nossa vida.
Digo as pessoas constantemente que a iluminação não é nenhuma garantia de que sua vida será do jeito que você planejou. A vida será bem melhor do que era, mas isso não significa que será do jeito que você desejar. No final, trata-se da verdade: trata-se de ser verdadeiro em todos os aspectos, em todos os níveis de seu ser.
Se você tentar se esconder, se estiver em um relacionamento disfuncional ou em um trabalho tremendamente insatisfatório e escolher não lidar com isso, a consequência dessa negação é que você não será verdadeiramente liberado. Jamais conseguirá ser totalmente livre, porque qualquer área onde escolhemos permanecer inconscientes terá, no fim das contas, um impacto sobre nós e também sobre os demais.
Se evitar os aspectos de sua vida que não estão em harmonia, aqueles que ainda possa estar negando – esse tipo de fuga ira impedir seu despertar espiritual. Muitos de nós pensavamos que de algum modo a iluminação nos permitirá evitar as coisas que achamos desconfortáveis em nós mesmos.
Adyashanti (Livro “O Despertar Autêntico”)
É preciso descer para subir
Lembre-se do que vimos até então: para avançar na consciência, você deve querer saber a verdade mais do que querer se sentir bem, deve querer iluminar (trazer consciência) as áreas não iluminadas e conflituosas de seu ser. Deve querer iluminar sua escuridão para transcender.
Temos que tomar consciência de nossos padrões de negação e evitação de realidades desconfortáveis, afinal, é muito mais confortável esconder-se da verdade, esconder-se de certos padrões disfuncionais que possam estar presentes em nossas vidas.
No livro Cura e Recuperação do Dr David R. Hawkins, ele nos dá uma preciosa dica para trazermos a tona, em nossa consciência, os conflitos internos não resolvidos que nos atormentam.
Ele diz o seguinte:
Relembrando de nossa inocência interior quando começamos a prática espiritual, pedimos para que seja revelado a nossa consciência aquilo que não é verdade. O processo é, então, a evidência do sucesso. Como resultado, podem existir um tipo de aparência caótica na vida daqueles que são vistos como buscadores espirituais. A pessoa interior fica satisfeita, pois diz “Me perguntado para ver o que existe entre mim e a verdade, isso foi trazido da minha consciência para ser reconhecido, reapropriado, recontextualizado e curado.
Tudo é do propósito quando determinamos nossa intenção para atingir uma compreensão da verdade e estamos abertos a Graça para que a verdade seja revelada de qualquer maneira que queiramos manter em mente, em qualquer expressão que for apropriada. É importante lembrar que pedimos para que tudo que estivesse um erro (ignorância) fosse trazido a tona para reconhecimento.
David Hawkins também comenta que é comum passarmos por esse período em nossas vidas de confrontação com nossa sombra (as partes negadas e rejeitadas de nosso ser) e que esse processo de integração de nossa sombra é fundamental para despertarmos espiritualmente e nos tornarmos seres completos e autorrealizados. Ele diz:
“Aqueles que se tornaram iluminados frequentemente passaram por períodos agonizantes de encarar o que havia de mais negativo em experiência que estavam enterradas em seus inconscientes, de se apropriar de sua própria sombra, de olhar para o que guardavam como mais odioso e se apropriando disso, e então desapegando (a “noite escura da alma”).
O que aconteceu na vida dos santos é que eles desceram para o fundo da tabela, o que desempenhou um papel importante em suas experiência interiores antes de alcançarem estados elevados de consciência. Isso foi uma consequência da pesquisa de seus eus interiores. Finalmente trouxeram a tona o fundo da escala e enfrentaram o antes inconsciente e depois consciente conceito de eu com algo ultimamente separado de Deus. A base da tabela representa a máxima separação de Deus.“
Crises de vida são grandes oportunidades de cura
Por isso, quando enfrentar uma crise de vida, lembre-se que você pediu conscientemente para que todas as ilusões e conflitos existentes em seu ser viessem a superfície. O caos que você observa em sua vida é justamente essas impurezas da mente vindo a superfície, para que possam ser compreendidas, perdoadas e liberadas. É uma excelente oportunidade de cura.
“No meio de uma crise frequentemente a pessoa esquece que tinha pedido para manifesta aquilo que precisa ser curado. O que esta acontecendo em sua vida, então, não é um equívoco ou um erro. É exatamente o que precisa se manifestar, ser observado, compreendido, rendido, recontextualizado, curado e perdoado.“
David R Hawkins
Já fiz um video no meu canal do youtube sobre como transformar essas grandes crises de vida em grandes ganhos de consciência e maturidade espiritual. Não deixe de assistir logo abaixo:
Pare de evitar aspectos negativos de sua vida
Vamos ter que sair do esconderijo em relação a tudo; Algumas vezes me perguntam: O que isso realmente significa? O que eu deveria fazer? E eu digo: comece com algo muito simples, pare de evitar as coisas. Se existe algo que está mal resolvido em você, volte-se para isso. Encare isso. Olhe para isso. Pare de se mover em outra direção. Comece a encará-lo. Comece a enxergá-lo. Na simples disposição de olhar para si, na sinceridade simples, a verdade começa a se revelar para si mesma. Não se trata aqui necessariamente de um esforço orientado por técnica. A técnica é a sinceridade; precisamos realmente querer a verdade.
Adyashanti
Portanto, como parte prática, comece o processo de se atentar e confrontar seus impulsos de evitar ou negar realidades dolorosas e assuntos desconfortáveis em sua vida.
Sente-se na sua cama e se pergunte – Que coisa estúpida que eu continuo fazendo que faz minha vida ser pior e que eu poderia abandonar? Você deve querer a resposta, abrindo-se humildemente para a REVELAÇÃO. Essa é a base cristã de que você deve estar consciente de seus pecados, se atentando as inadequações e admitindo-as.
A tradição judaico cristã é necessária pois o corpo narrativo tem sua premissa central de que o espírito da verdade é o maior dos princípios, que é nossa natureza mais fundamental.
Definir sua vida espiritual como a busca pela paz interior não é a melhor das ideias. Cristo nos exortava a não buscar a paz, mas a Verdade e não consta que, em sua vida, gozasse de um momento de paz. Muitos gurus de hoje em dia confundem espiritualidade com psicoterapia, relaxamento, com PNL.
Como seres humano, temos a tendência natural de querer evitar aquilo que evoca dor e medo (isso inclui fatos que precisamos enfrentar e considerar. E, para isso, temos que evitar esses impulsos de esquiva, que estejamos atentos a esses impulsos de negação e evitação. O que precisamos é uma orientação de autoexame e auto-consciencia, tanto em nosso mundo interno quanto externo.
Parte do processo de você viver conscientemente é estar atento contra a sedução, a força de atração da inconsciência.
Medo e dor deveriam ser tratados como sinais não para fechar seus olhos, mas, para abri-los, não para evitar olhar, mas, para olhar atentamente. Essa é uma tarefa difícil. É irreal imagina que a executaremos perfeitamente. O que importa é a intenção de sermos mais conscientes.
“Ser menos que sincero, fugir do que quer que seja, diminui a experiência de quem somos. Como digo frequentemente aos meus alunos, ser menos que verdadeiro com as pessoas e situações em sua vida é reter a expressão de quem você é. No final, devemos ver que a verdade em si é o bem mais elevado, que a verdade em si é a maior expressão e manifestação do amor. Em última instância, amor e verdade são identicos, são como os dois lados de uma moeda. Não se pode ter verdade sem amor, e não se pode ter amor sem verdade”
Adyashanti
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