Um místico é alguém que teve um despertar espiritual radical, que teve um contato direto com o divino, que transcende conceitos e linguagem, algo inefável. Tal experiencia traz consigo uma profunda transformação interna, em seu ser.
É frequente que os místicos passem por um período em suas vidas isolados e em retiro, para que o trabalho interno profundo seja realizado, que envolve enfrentar e assimilar a sombra, a natureza pecadora, o falso eu (eu menor).
“O ser humano tem muitas peles em si mesmo, que lhe cobrem as profundezas do coração. O homem conhece tantas coisas, mas não conhece a si mesmo. Ora, trinta ou quarenta peles ou couros, inteiramente semelhantes aos de um boi ou de um urso, igualmente grossos e duros, recobrem a alma. Penetre no seu próprio fundamento e aprenda ali a conhecer-se.“
Meister Eckhart
O entendimento dos místicos de Deus é diferente daquele que é oferecido pelas instituições. Muitas das vezes a religião se mistura com a política, o que acaba corrompendo os próprios princípios espirituais universais nos quais a própria tradição religiosa foi fundada (distorção egoica dos ensinamentos espirituais).
Além disso, muitas pessoas usam da teologia como forma de acentuarem o ego delas (se considerando moralmente superioras aos demais e enxergando os outros como seres diminuídos e errados).
No ocidente temos essa mentalidade de que o ser humano é separado de Deus. Já os místicos enxergam Deus de uma outra perspectiva: estamos dentro de Deus, que é Aquele que tudo é. Em Deus você vive, se move e tem o seu ser, não é algo externo e separado de quem você é.
Ao longo do processo de transformação interna, o ego, que nos mantem separados de Deus, gradualmente se dissolve e nos abrimos a revelação da Realidade Divina.
“O ego é um véu entre o homem e Deus”
RUMI
A Jornada Mística
Para passarmos de um estagio evolutivo espiritual para outro (transcendermos nossos níveis de consciência) sempre é requerido alguma forma de liberação de dor acumulada e “morte”. Temos que morrer para nós mesmos e deixar o eu real emergir. Morrer para o falso eu, o construto, a identidade que construímos para sobreviver e que nos aprisiona.
O objetivo final é penetrar de volta em Deus, desapegando do mundo de particularidades e individualismo e retornando a Fonte.
1-) DESPERTAR: Ocorre geralmente em um momento de dificuldade, trauma, depois de você ter passado por um longo período de tensão interna.
“Todo sofrimento tem dois propósitos divinos: A evolução da Consciência e a destruição do Ego”
Eckhart Tolle
2-) PURGAÇÃO: Purgação de hábitos, dinâmicas do ego, maior entendimento das estruturas e tendências do seu ego, cura de feridas e começo do processo de alinhar sua vida com esses novos entendimentos, estando aberto para receber mais GRAÇA divina.
3-) ILUMINAÇÃO: Educação espiritual e maior entendimentos sobre o processo, mentoria, período de intensificação das práticas
4-) NOITE ESCURA DA ALMA: Ultima purificação, morte do ego, enfrentamento das feridas centrais que você carrega dentro de si.
5-) UNIÃO DIVINA: Você é um puro canal do amor divino, manifestação da Verdade. “Eu e o Pai somos UM”
Termos centrais do misticismo cristão
Apophatic: Teologia negativa, afirma que sabemos mais sobre Deus ao negarmos nossos conceitos ao invés de afirmá-los. Deus transcende a nossa habilidade de conceitualizar e articular, então qualquer definição e articulação visando definir e encapsular Deus não é real, não podemos encapsular a totalidade de quem Deus é por meio de palavras e linguagem, por isso o Divino só pode ser conhecido por experiência direta. Nada pode ser falado ou indicar o que Deus é, pois ele está além de qualquer descrição ou entendimento intelectual e a melhor resposta é o silêncio.
Kathaphatic: Teologia positiva, sempre há uma limitação no que você pode comunicar sobre Deus. Você conhece por palavras, conceitos, ideias, através do saber, porém era baseado e equilibrado pelo conceito de FÉ. O Kathaphatic era balanceado por Aphotatic, que é o saber por não saber, a santa ignorância.
Via negativa: De um lado nega os conceitos mas ao mesmo tempo estão dedicados no processo de dissolver o ego e se tornar um com Deus.
Logos (identificado como CRISTO): É a energia elementar que está por trás (invisível) aos nossos olhos. É o principio organizador da Realidade, que dá origem a forma.
Theosis: União divina
Os ensinamentos dos místicos cristãos
No místicismo cristão, encontramos ensinamentos similares ao budismo, sufismo e taoismo.
Como retornar a Deus? Através do DESAPEGO. Não se trata do desapego com coisas externas mas sim do desapego interno – uma liberação da consciência/alma das limitações e do aprisionamento das formas (físicas e mentais), incluindo do ego e seu mundo.
Morrer para nós mesmos até que não reste nada – nos esvaziar das coisas criadas e retornar ao vazio silencioso da alma, e nesse vazio que Deus se apresenta. Quando chegamos a um estado de total desapego e vazio da alma que Deus nos preenche.
A disciplina é reconhecer nossos padrões intimos de pensamentos, emoções e reações e desapegar-se das limitações. Vigilância. Autoobservação.
“Você deve saber que estar vazio de todas as coisas criadas é estar cheio de Deus e estar cheio das coisas criadas é estar vazio de Deus”
“Que alívio estar vazio! Então Deus poderá viver sua vida.“
Meister Eckhart
O cristianismo antes tinha o conhecimento não dual ou da consciência unificada. O Jesus não ensinou a não dualidade diretamente e sim através de exemplos. O que nós chamamos de pensamento unitivo ou não dual ou o equilíbrio entre saber e não saber só é ensinado em alguns monastérios.
As palavras são inerentemente dualísticas, distinguem isso daquilo. Quando o seu foco de concentração é em utilizar palavras como forma de distinguir a si mesmo dos demais, você entra na separação e no conflito. Quando começamos com lutas entre estou certo X você está errado (a necessidade de provar que você está certo e o outro errado, isso é a dominância do ego, que acaba com a contemplação), isso põe fim a mente contemplativa.
“Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.”
Mateus 5:45
A arrogância do saber
FÉ é estar confortavel em não saber. Não é como estamos utilizando esse conceito agora, de achar que sabemos de tudo, que é o fundamentalismo.
Somos treinados em ideologias que obscurecem o real.
Deus é desconhecido e os Cristãos acreditam, pelo fato dos seres humanos precisarem de um rosto e uma forma, que Deus, que é sem forma, se tornou Jesus, conhecido e amado.
Como Buda me ensinou a ser um melhor cristão
“A conseqüência lógica da filosofia ativa e interrogativa do Ocidente é a contemplação passiva do universo e de nós mesmos, preconizada pelos mestres orientais”
Olavo de Carvalho
O que o Budismo fez, pois eles não perderam todo o seu tempo discutindo sobre metafísica, foi praticar a observação das relações entra a mente, coração e a Realidade. Budismo e Cristianismo são complementares.
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