O sentimento de vergonha difere do sentimento de culpa. A culpa diz respeito a um mal causado ao outro: um mal real ou imaginário. Na vergonha, o mal causado é a Si próprio: experiência a vergonha é sentir a própria imagem danificada: a pessoa vivencia uma sensação de inadequação e se considera inferior perante um ideal ou um determinado padrão que ela valoriza.
Gaulejac refere que “a vergonha é o desamor por Si, é pensar que se é mau por dentro” e, tal sentimento, estaria atrelado a sensações de impotência e perda de confiança tendo como consequência um fechamento em Si.
Quem é tomado pela vergonha interpreta os olhares alheios como julgadores e invasivos. O envergonhado supõe que o Outro o enxerga da maneira com que ele próprio se vê: de forma inadequada ou inferiorizada.
A imagem que uma pessoa tem de si, o valor que se atribui, o amor-próprio, são aspectos que se desenvolvem desde os primórdios da infância – aspectos que estão relacionados com as formas de tratamentos recebidas no passado, por exemplo: se a criança cresceu em ambiente com críticas constantes poderá inibir suas ações por acreditar que não faz bem as coisas, ou, poderá sentir-se insegura e desvalorizada; se sofreu negligência, desatenção, poderá crescer acreditando que é não merecedora de atenção e amor.
O abandono afetivo e a falta de aprovação por parte de pessoas significativas são fortes dispositivos para o desenvolvimento da insegurança, baixa autoestima e, consequentemente, o sentimento de não ser bom o bastante, favorecendo o irrompimento do sentimento de vergonha.
Mas, esse afeto constrangedor também é visto pelos antropólogos como um importante modulador do comportamento social, ou seja, a vergonha ajudou os nossos antepassados a se comportarem da forma “apropriada” de acordo com os grupos que pertenciam.
A vergonha é o afeto que vem apontar o embaraço, o constrangimento quando não se tem um comportamento esperado no âmbito social; é o afeto direcionador ao padrão social do bom comportamento.
Não obstante, se a vergonha impõe limitação ou paralisação à pessoa, prejudicando sua funcionalidade nas relações profissionais, familiares e sociais, infligindo sofrimento, entendemos que se trata de um quadro patológico.
Assim, torna-se importante conhecer quais são as crenças e padrões de pensamentos, quais aspectos do funcionamento psíquico levam a pessoa a se esconder em determinadas situações, ao sentimento de impotência, à inibição, ao sentimento de vergonha.
A psicoterapia trabalhará os aspectos afetivos e cognitivos envolvidos no quadro clínico da Vergonha bem como a autoaceitação, autovalorização e o fortalecimento da autoestima para que a pessoa consiga avançar os limites que lhe causam sofrimento.
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