Segundo Melanie Klein, psicanalista pós freudiana, a inveja é um afeto constitutivo do ser humano tendo sua origem nas relações com as pessoas que convivemos desde a tenra infância.
Por exemplo: quando a criança percebe, ao seu modo, que o Outro tem o objeto de seu desejo, que depende do Outro para sobreviver, que a atenção e acolhimento que deseja nem sempre estará disponível… Tais vivências seriam geradoras do sentimento de inveja alimentando futuramente conteúdos internos referentes ao por quê o outro tem e eu não; o outro consegue e eu não.
Wilfred Bion, médico psiquiatra e psicanalista, foi também analisando de Melanie Klein, ressalta que a inveja é uma função de vínculos e se faz presente nas relações humanas. Quando o desenvolvimento do sujeito ocorre em um ambiente, de modo geral, acolhedor e generoso, esse sentimento de inveja pode ser minimizado possibilitando que, quando adulto, tenha melhores condições psicológicas para manejar as questões emocionais, podendo inclusive, ao invés de manifestar inveja, desenvolver o sentimento de admiração.
A inveja torna-se nociva quando sentida com frequência porque impede a introjeção dos bons objetos que formam a base de uma vida psíquica saudável – a pessoa quando é acometida pela inveja intensa nutre um mal estar interior que empobrece e limita a sua vida.
Em termos clínicos, a inveja é um sentimento relacionado à raiva e ao ódio e, geralmente, o
invejoso não reconhece sua própria capacidade criativa, nem seu valor, nem sua potencialidade e,
sim, consegue ver tão somente no Outro. Ele não enxerga as possibilidades que ele mesmo tem
para as realizações que gostaria. Seu olhar é direcionado para a vida da pessoa invejada.
Geralmente, o invejoso não se percebe invejoso e desloca suas angustias para aqueles com os quais convive buscando aliviar seu conflito interno, seus sentimentos de desamor, inferioridade, incapacidade, apresentando discursos negativos e de espoliação, ou seja, critica e fala mal das conquistas e feitos da pessoa que ele inveja na intenção de destruir e desvalorizar.
É importante termos consciência dos afetos que se manifestam em nosso ser e observar se advém mal estar quando vimos uma pessoa próxima sendo bem sucedida, conquistando, crescendo, evoluindo.
Se ocorrer mal estar interno provocado pela felicidade e bem estar do outro, é importante atentar para esse sintoma e verificar se diz respeito à inveja, pois tal sentimento evidencia uma desconexão da pessoa com ela mesma, um alheamento dos próprios desejos e anseios, um abandono da própria vida visto que sua atenção é direcionada para o Outro.
A questão que precisa ser avaliada sobre o afeto da inveja é de ordem subjetiva e envolve a necessidade de autoconhecimento, elevação da autoestima, apropriação das potencialidades e capacidades. Trata-se do reconhecimento do próprio brilho e valor.
Ressaltamos:
- A inveja está por todos os lados: trata-se de um afeto comum no ser humano e é importante reconhecê-lo e organizar formas de lidar.
- Entrar em contato com as próprias dificuldades: dar atenção para as questões internas – a inveja é um afeto que remete a aspectos da própria pessoa e pode evidenciar pontos importante para processar, amadurecer e fortalecer. É um afeto que abre possibilidades de transformação na relação do Eu com Outro.
- Não há como evitar a convivência: as pessoas invejosas estão nos mais variados círculos por isso é importante reconhecer os ataques invejosos que visam destruir a autoestima, causar insegurança, medo, entristecimento; visam apagar o brilho e a criatividade da pessoa invejada. É preciso atenção para não entrar nesta dinâmica destrutiva.
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