Ficamos tristes quando acontecimentos desagradáveis ocorrem como, por exemplo: o fim de um relacionamento, perda de um emprego, mal-entendidos com pessoas que prezamos, distanciamento daqueles que amamos, um acontecimento muito esperado que não deu certo, ou seja, são tipos de vivências que podem gerar tristeza e ocasionar humor deprimido por um tempo, mas é possível superar e retomar a dinâmica de vida.
A tristeza faz parte dos afetos vivenciados em nosso cotidiano. No entanto, quando falamos em depressão, temos uma tristeza que se desdobra de forma patológica, com maior grau de intensidade e permanência na vida da pessoa, sendo mais difícil superar.
Antigamente, a palavra depressão era pouco utilizada, falava-se mais em melancolia cujo conceito veio da Grécia, descrito inicialmente por Hipócrates, no Sec. IV a.C.
O termo depressão surgiu com o sentido atual no Sec. XIX e atualmente é reconhecida como um transtorno de humor cujo o numero de diagnósticos aumenta assustadoramente.
Segundo a OMS, a prevalência da depressão no Brasil já é a segunda maior carga de incapacidade, sendo o maior índice na América Latina. São mais de onze milhões de brasileiros diagnosticados com esse transtorno, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). A prevalência registrada é maior entre as mulheres.
Ao contrario da tristeza onde a pessoa reconhece o motivo que a entristeceu, a depressão não evidencia relação imediata com algum acontecimento externo. Normalmente inicia-se de forma branda e vai acentuando-se.
A pessoa torna-se apática, não sente vontade de realizar atividades que antes realizava, demonstra dificuldade em concentrar-se, sente cansaço sem explicação, alterações no sono e no apetite, dores no corpo, dor de cabeça, costuma ser muito crítica com ela mesma, sente-se impotente de forma geral, constantemente se autoavalia e, denota anedonia – a impossibilidade de sentir prazer na vida.
A depressão contamina a visão de mundo da pessoa, modifica a percepção de si e, as problemáticas rotineiras da vida são vistas como grandes catástrofes, ocasionando alterações na dinâmica de comportamento, disfunção no trabalho, nos relacionamentos sociais e familiares.
A depressão é resultado de uma complexa interação de fatores sociais, psicológicos e genéticos e pode apresentar-se em diferentes graus e diferentes dinâmicas de funcionamento segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). O tratamento médico e psicoterápico torna-se necessário a partir do momento que acarretar sofrimento à pessoa.
Os sintomas depressivos variam: é possível uma pessoa depressiva não aparentar tristeza, mas sim irritação em nível alto, estado colérico, impaciência, certa aceleração (mantendo-se sempre ocupada com alguma coisa).
Geralmente a pessoa não sabe por que está apática ou irritada, não consegue nomear o que está sentindo e nem dar sentido ao que está lhe acontecendo, não entende por que está mal já que, por exemplo, pode considerar a sua vida muito boa.
Há pessoas depressivas que conseguem dar conta das demandas cotidianas, mas carregam em seu interior um sofrimento que empobrece sua qualidade de vida e também daqueles com quem convive.
Por isso a importância de prestarmos atenção nas pessoas que convivemos e, percebendo alguma alteração no comportamento, iniciar conversa, perguntar, escutar o que o outro tem a dizer, valorizar esse compartilhar e, sendo observada alguma alteração que esteja causando prejuízo, orientar e, mesmo insistir, para que procure ajuda especializada.
Importante ressaltar que: quando o sofrimento não é cuidado, poderá se potencializar e tornar- se um sintoma e, mesmo o sintoma sendo leve, se não cuidado , poderá avançar para um grau severo. Assim sendo, é crucial não deixar a situação piorar, evitando assim possíveis riscos, danos e repercussões nas várias esferas da vida, especialmente nas áreas relacionais.
A depressão é um afeto que aparece no momento em que o sujeito evita sua própria determinação inconsciente, resiste em entrar em contato com sua “falta” e abre mão de seu desejo e, com isso ocorre uma baixa no nível de energia psíquica, ou seja, uma perda da libido, que implica em perda de prazer, de investimento libidinal. Ocorre uma disjunção entre o sujeito e o prazer.
Há estudos clínicos e literários dentro do campo PSI que teorizam sobre vivências na primeira infância onde falhas potenciais experienciadas no cotidiano, tais como: desamparo, desatenção, desenvestimento no vínculo afetivo, isolamento, ou ainda, o fazer demais, sufocar uma demanda ainda não apresentada pela criança, antecipando as atitudes, não permitindo espaço para vivência da falta, poderiam, posteriormente, se configurarem como território fértil para o desenvolvimento do estado depressivo.
Não é fácil entrar em contato com as questões internas que incomodam e causam mal estar; não é fácil refletir sobre o sofrimento que nos acomete, nossa tendência é desviar-se dele. Isso porque tais questões demandam energia psíquica, mobilização de recursos próprios de enfrentamento, disposição para conhecer mais sobre si mesmo.
Sabemos que entrar em contato e sustentar o próprio desejo também não é uma tarefa fácil levando em consideração o mundo o qual vivemos, repleto de obrigações, ritmo acelerado, desinvestimento das relações com liquidez dos afetos, apatia, desamparo, cobrança de sucesso, falta de tempo para o contato com o mundo interno, sedutores e atraentes acessos tecnológicos junto a uma irrupção de informações quem comprimem e entretém nosso estado de Ser incutindo o esquecimento de nós mesmos.
Sabemos que, de modo geral, o “EU” encontra-se enfraquecido, sem forças internas para se desenvolver e se manter neste território cultural, sem terra firme e sem raízes.
Mas, devemos atentar em meio a tudo isso que: a imersão no estado depressivo nos remete a possibilidade do sujeito reinstaurar a falta, permitir-se sentir a falta, contatar o vazio, se dispor enfrentar os abismos, demasiadamente, humano onde seja possível configurar um espaço onde o seu desejo possa advir e a vida, de outra forma, existir.
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