O termo “Spiritual Bypassing” foi cunhado em 1984 por John Wellwood. Como professor budista e psicólogo existencial / transpessoal, ele ajudou a fundir a espiritualidade oriental com a psicoterapia ocidental. Em suas palavras, “Spiritual Bypassing” significa:
“Uma tendência generalizada de usar ideias e práticas espirituais para contornar ou evitar enfrentar questões emocionais não resolvidas, feridas psicológicas e tarefas de desenvolvimento inacabadas.“
John Wellwood
Spiritual Bypassing: Quando usamos ideias e práticas espirituais como forma de evitar lidar com a nossa dor emocional não resolvida – como forma de evitar a cura (de não querer colocar luz no seu sofrimento, na sua sombra). Você usa da espiritualidade como uma forma de escape e distração de si mesmo.
Muitas pessoas utilizam das ideias e conceitos espirituais como uma forma de se esconderem e se distraírem, o que as impossibilita de crescer interiormente.
Elas evitam entrar em contato com suas feridas e inconsciência se escondendo atrás de conceitos e ideias espirituais e utilizam da espiritualidade como desculpa para não tomar ação, para não atingirem seus objetivos e sonhos.
O “Spiritual Bypassing” também pode acontecer quando temos medo de sentir toda a gama de nossas emoções humanas naturais. É a chamada “falsa positividade”.
Nesse caso, a pessoa acaba usando a espiritualidade, para evitar entrar em contato com essa parte mais “sombria” de seu ser. Tocar as profundezas do seu ser significa explorar sua sombra (toda a parte de você que você não consegue ver, reconhecer ou aceitar).
A espiritualidade pretende nos ajudar a integrar nossa sombra, de nos fazer inteiro novamente. Spiritual bypassing é um mecanismo de defesa que nos protege de sentir o que não queremos sentir – é você negar e suprimir a escuridão dentro de você.
Focar apenas na luz pode ser uma forma de escape! Focar apenas na luz não irá curar suas feridas em um nível profundo. Isso não atinge as profundidades do seu ser, não te transforma em um nível profundo.
Essas frases do Rumi ilustram bem o que estou falando… Evitar OLHAR para sua dor é um grande impedimento para você avançar espiritualmente:
Spiritual Bypassing é uma forma de defesa. Pode ser uma crença “Eu não posso enfrentar o que tem dentro de mim” ou que “Algumas emoções são ruins e é errado eu tê-las, por isso devo bani-las”.
Não somos apenas humanos aprendendo a se tornar budas, mas também budas despertando na forma humana, aprendendo a se tornar totalmente humanos. E essas duas trilhas de desenvolvimento podem enriquecer-se mutuamente.
John Wellwod
Sombra (The Shadow)
A consciência sempre foi comparada a luz. O que é o oposto da luz? A sombra. A sombra é um outro nome utilizado para designar o nosso inconsciente.
O termo “Sombra” foi trazido primeiramente pelo psiquiatra Carl Jung, e basicamente significa a parte inconsciente e reprimida de nossa personalidade.
Porém, a sombra já era conhecida pelos xamanistas (que são curadores) e outras tradições espirituais muito antes de Jung. O Jung, porém, foi o primeiro a trazer esse conceito ao ocidente.
De uma perspectiva espiritual, a sombra é toda a parte de você que você não consegue ver, reconhece ou aceita.
E por que isso é importante? Pois a sua sombra opera fora de sua consciência na forma de crenças inconscientes, energia, imprints.
Ela é uma entidade viva dentro de você, que pode afetar profundamente seu comportamento, experiências de vida, e as coisas que você atrai na sua vida!
A sombra é aquela lixeira com todas as características de nossa personalidade que rejeitamos. Conforme veremos, toda essa parte rejeitada de nossa personalidade é extremamente importante e não pode ser descartada. Honrar e aceitar a sua própria sombra é uma grande disciplina espiritual. É a experiência mais importante da sua vida.
Quando ficamos preso no “Spiritual Bypass” (desvio espiritual) nós perdemos nosso maior tesouro – nossa sombra, pois é nela que temos que focar se quisermos ser inteiros e completos novamente.
Como a sombra se origina?
Todos nós nascemos inteiros. Mas em algum lugar no início do nosso caminho, nós comemos o fruto do conhecimento, e as coisas se separaram entre o bom e o mal. É ai que se começa a formação de nossa sombra, dividimos nossa vida.
No processo cultural, classificamos as características dadas por Deus em aquelas que são aceitáveis para nossa sociedade e aquelas que devem ser eliminadas. Isso é maravilhoso e necessário, e não teria comportamento civilizado sem está classificação entre o bem e o mal.
Mas as características recusadas e inaceitáveis não vão embora, eles se juntam e ganham vida própria. A sombra é aquilo que não entrou adequadamente na consciência. É a parte desprezada do nosso ser.
O processo civilizatório, que é uma das maiores conquistas da humanidade, consiste em eliminar essas características que podem ser prejudiciais ao funcionamento ideal da sociedade. Qualquer um que não vá por esse processo permanece primitivo.
Todos nós nascemos inteiros, mas de alguma forma, a cultura demanda que vivamos apenas uma parte de nossa natureza e recuse outras partes de nossa herança.
Nós dividimos, então o self (eu) em ego e sombra, pois a cultura exige que tenhamos um determinado tipo de comportamento. Esse é o nosso legado por ter comido a árvore do fruto do conhecimento no jardim de éden.
Uma importante parte de nós mesmos, portanto, se encontra dormente ou não usada.
Chegamos a fase adulta com um ego e sombra definidos, um sistema de certo e errado. O ego e o certo são sinônimos enquanto a sombra e o errado também são.
O processo religioso consiste em restaurar a integridade da personalidade. A palavra religião significa colocar tudo junto de volta, curar as feridas da separação. A palavra religião é vem de raízes latinas. “Re” significa de novo e “ligare” significa ligar, combinar. A palavra religião significa algo como ligar-se novamente ou unir novamente.
É fundamental nos engajarmos no processo cultural para nos redimir de nosso estado animal e é igualmente importante conquistar a jornada espiritual de restaurar/ curar nosso mundo fragmentado e isolado. A pessoa tem que sair do Jardím do Éden mas deve retornar de volta.
Geralmente a primeira parte da vida é devotada ao processo cultural – aquisição de habilidades, construir uma família, disciplinar a si mesmo de várias formas. A segunda parte da vida é devotada a restaurar a completude (fazer a vida voltar a ser sagrada).
Reconhecer e admitir nossa sombra é admitir que existem muitos lados nossos que o mundo geralmente não ve. Quanto mais refinada a sua personalidade consciente, maior a nossa sombra.
Esse é um dos maiores insights do Jung, de que o ego e a sombra se originam da mesma fonte e equilibram um ao outro. Integrar a sua sombra significa atingir o ponto central interno, um lugar sagrado. Se a pessoa falhar nisso, ela falhará na sua própria vida, nunca atingindo sua divindade.
Recusar o lado sombrio de sua natureza é você acumular e estocar escuridão, que acaba se manifestando depois como mau humor, doenças psicossomáticas etc. Estamos lidando com uma sociedade inteira que só esta focando e adorando seu lado de luz e recusado seu lado sombrio – isso se demonstra em guerras, racismo etc.
Todo o reparo do nosso mundo deve começar com indivíduos que tiveram a coragem de integrar sua própria sombra.
Nada lá fora ajudará se o mecanismo interno de projeção das pessoas está operando em disparado. A tendência de ver a sua sombra como “lá fora” (através da projeção) no seu vizinho, em outra raça ou cultura, é uma das coisas mais perigosas da psique moderna.
Alguns sinais de “Spiritual Bypassing”
- Querer focar apenas na luz (falsa positividade)
- Indisposição e resistência a olhar para sua sombra
- Projeção (achar que tudo em você está bem e que os outros que são negativos e maldosos)
- Não reconhecer sua humanidade (não querer reconhecer suas emoções negativas, julgamentos, sua parte humana/animal)
O que fazer para evitar o Spiritual Bypass?
- Identificar o que você está sentindo e permitir-se sentir suas emoções com Mindfulness
- Faça Shadow Work (trabalho com sua sombra)
- Tenha a disposição de encarar seu sofrimento (não evitá-lo ou negá-lo)
- Não fique preso a teorias e conceitos espirituais, a prática dos ensinamentos é muito mais importante!
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