Comumente ouvimos falar da angústia assumindo as mais diversas formas: uma grande aflição da alma, coração oprimido, ansiedade penosa, um tormento, inquietude do ser.
A angustia remete a uma sensação de boca sufocada com um tecido suprimindo a fala tal como fazem os ladrões quando colocam à força nas pessoas para impedi-las de falar; confusão de emoções, desamparo, agonia, dor da alma que não há remédio que cure, aperto no peito… sensação de restrição torácica, insuficiência, impotência.
O conceito de angustia na obra freudiana foi evoluindo com importante destaque nas investigações clinicas com estudos e teorizações: trata-se de um afeto, ou seja, uma energia psíquica que foi desligada de sua representação, uma ideia ou um conteúdo de pensamento.
Por remeter e invocar desconfortos e desprazer a representação ou a ideia dolorosa foi recalcada pelo sujeito e desligada do afeto em questão. Afeto este que ficaria livre no psiquismo.
Para se proteger, o Eu repele e mantém no inconsciente estas representações, pensamentos, ideias, recordações ligadas ao trauma que gerou a angustia. Esse mecanismo ocorre por não ter sido possível, psiquicamente, lidar com a situação, por não se ter condições psíquicas para elaborar o conteúdo.
Separado de sua representação ou ideia e, livre no psiquismo, este afeto ( angústia) também poderá aderir a uma nova representação, a um novo conteúdo representativo que lhe seja afim.
Quando a angustia se manifesta, o sujeito não consegue nomear, explicar do que se trata o mal-estar, a sensação penosa pela qual é acometido. Busca-se os motivos que poderiam ser a causa do mal-estar, mas não se consegue explicar por tratar-se de uma sensação indefinida.
Primeiramente, Freud trouxe a angustia como sendo derivada de um excesso de energia no psiquismo referente a insatisfações na vida sexual – uma excitação somática relacionada a contextos da sexualidade: uma energia que não foi adequadamente descarregada.
Lembrando que a sexualidade para Freud não se restringe ao ato sexual, mas sim a um campo amplo dos aspectos de Eros, os aspectos eróticos no que diz respeito as sensações, afetos, prazeres diversos.
Avançando em suas investigações sobre o aparelho psíquico e descobertas clinicas, principalmente seus estudos sobre o recalque como defesa psíquica, Freud ampliou sua concepção de angustia cuja nova teoria refere a um sinal para impedir um desprazer ainda maior que emergiria como reação a um perigo iminente ameaçador ao Eu.
Ou seja, a angústia surge como um alerta a um perigo onde o Ego pressente que algo traumático poderia vir à tona e, para impedir esse acontecimento, a angústia emerge mascarando uma vivencia ainda mais sofrida. De certa forma, podemos entender que a angustia tem a função de resguardar o Eu, realizando no psiquismo “um mal menor”.
A partir dessa ampliação conceitual onde a angustia é considerada como sinal alertando quanto a um possível perigo ameaçador, Freud teoriza que o protótipo das experiências de angústia é o nascimento.
Neste momento célebre ocorre a reprodução de uma experiência que reúne as condições onde se tem elevação de estímulos desprazerosos: a vivencia do desamparo original onde o ser humano precisa do outro para sobreviver, precisa do amor e do desejo do outro, precisa do amparo e acolhimento.
No nascimento, as vivencias relacionadas ao “perigo” careceria de estrutura psíquica para lidar e, o recém-nascido, seria capaz de perceber apenas uma enorme perturbação a qual ficaria registrada em seu Ser.
A partir de então, o afeto de angústia voltaria a emergir em situações que lhe recordassem essa experiência traumática primária – a ameaça de ser novamente inundado por grandes somas de excitações desprazerosas em uma situação na qual o indivíduo se encontra impotente.
Essas excitações desprazerosas seriam sinalizadas como “perigo” em ocasiões posteriores na historia de vida, por analogia a experiência do nascimento.
Trazendo a reflexão acerca da angústia para a sociedade contemporânea onde o contexto social evidencia apatia, narcisismo, superficialidade, aceleração, desinvestimento das relações que provocam esvaziamento do sentido de existir, temos a repercussão e a ampliação de um campo fértil para a manifestação deste afeto no sujeito carente, desamparado e fragilizado.
Por outro lado, a angústia pode ser considerada um dispositivo de mudança quando, em algum momento da vida, o sujeito busca caminhos para tratar o sintoma e depara-se com a possibilidade de voltar o olhar para seu mundo interno, sua subjetividade, entrando em contato consigo mesmo. Abre-se então, uma oportunidade de se perguntar como está a vida?
E, se houver desejo de mudança, buscará meios de melhorá-la. A transformação da angústia poderá trazer um bem estar interior e melhor qualidade de vida tanto psíquica quanto física.
Por fim, consideramos que: entender melhor a manifestação da angustia, sintoma tão presente nos dias atuais, causador de sofrimentos e base de diversos quadros clínicos, é um desafio para o psicólogo onde a Clinica da Angustia atuará com a intervenção em relação a alienação do sujeito quanto a si próprio, trazendo sua atenção para sua vida, seus desejos, seu mundo.
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