Deixar de criar sofrimento no presente – ou seja não resistir ao que é, e dissolver o sofrimento do passado (o chamado Corpo de Dor) é o que temos que fazer se quisermos viver conscientemente.
Basicamente, existem 2 níveis de sofrimentos: o que você cria agora e o que tem origem no passado que vem da sua mente.
Como Eckhart Tolle diz no seu livro “O poder do Agora”:
A maior parte do sofrimento humano é desnecessário, ele se forma sozinho, enquanto a mente superficial governa a vida. O sofrimento que sentimos é sempre alguma forma de não aceitação, resistencia ao que é. No nível do pensamento é através do pensamento, no emocional é negatividade.
Faça do agora o foco principal de sua vida. Se você antes se fixava no tempo e fazia breve visitas ao Agora, inverta essa lógica, fixando no Agora e fazendo rápidas visitas ao passado e ao futuro quando precisar lidar com os aspectos práticos da vida. DIga sempre “sim” ao momento atual. Renda-se ao que é
Quanto mais respeitamos e aceitamos o Agora, mais nos livramos do sofrimento e da mente.
Eckhart Tolle
O nosso sofrimento do passado é o que o Eckhart Tolle chama de “Corpo de Dor”. Uma grande parte de nossa jornada espiritual se trata de dissolver esse corpo de dor, esse reservatório emocional de sofrimento que é o alimento do ego. Deixar ir essas emoções negativas que estão profundamente enraizadas em nós é a desconstrução do ego (nosso falso eu).
Além dessa parte de dissolver esse sofrimento do passado, temos que treinar nossa atenção errante a repousar no momento presente, sem ficarmos perdidos em nosso drama psicológico. A maioria de nós somos vítimas de nosso próprios processos mentais, que podem fugir do controle – e combinados com nossos estados emocionais aflitivos e inconsciente, nossos pensamentos podem acabar causando grande sofrimento.
Jon Kabat Zinn no seu livro “Atenção Plena para Iniciantes” explica uma das maneiras mais fáceis de fazer isso, que é trazer sua atenção a sua respiração:
“Nossa respiração pode servir como um primeiro objeto ao qual voltar a atenção para nos trazer de volta ao momento presente, porque sempre estamos respirando no agora – a última expiração acabou, a próxima inspiração ainda não chegou. Assim, para a nossa atenção errante, a respiração é uma âncora ideal, capaz de nos manter no momento presente“
Ele também diz:
Nossa atenção não é muito estável e, em boa parte do tempo, se deixa levar para lá e para cá. Por meio da prática constante ficaremos mais familiarizados com as idas e vindas da mente e, com o tempo, a mente aprenderá a se estabilizar – ao menos até certo ponto.
Alcançar um pouquinho de estabilidade aliada a consciência já é um avanço significativo, por isso é importante não criar idealizações nem imaginar que a sua mente vai ficar absolutamente estável, sem oscilar. Isso pode até acontecer, mas a natureza da mente é a oscilação.
Habitar a consciência é a essência da prática: O desafio da atenção plena é estar presente em sua experiência como ela é em vez de imediatamente intervir para modificá-la ou tentar obrigá-la a ser diferente.
O pensamento, em vez da consciência, parece constituir nosso “estado geral padrão”. É bom observar esse fato, porque assim podemos deixar de voltar automaticamente ao pensamento repetitivo e permanecer no modo mental que nos coloca numa posição bem melhor – a própria consciência. Talvez com o tempo seja possível que nosso estado geral padrão seja marcado por uma maior atenção e não pela desatenção e pelo hábito de nos perder em pensamentos.
Visto isso, existem 3 qualidades essenciais de cultivarmos para vivermos de uma forma livre e desperta. Elas são a não resistência, o não julgamento e o desapego.
Todas essas qualidades nos fazem viver mais em alinhamento com que verdadeiramente somos! Por meio do desapego, assim como do não-julgamento e da não-resistência interior, obtemos acesso ao estado de Presença.
A seguir falarei mais especificamente sobre cada uma delas:
Os 3 aspectos da vida desperta
A Não Resistência (Aceitação ou Entrega)
Se entregar é aceitar o momento presente sem restrições e sem reservas. É abandonar a resistência interior aquilo que é. A resistência interior ocorre quando dizemos “não” para aquilo que é , através de um julgamento mental e de uma negatividade emocional
Como a resistência é inseparavel da mente, o abandono da resistência, a entrega, é o fim da atuação dominadora da mente, do impostor fingindo ser você. A região do Ser, que tinha sido encoberta pela mente se abre.
O relacionamento primordial de nossa vida é aquele que mantemos com o Agora. O ego pode ser definido como uma relacionamento desajustado com o momento presente. Precisamos fazer essa escolha o tempo todo, sem parar, até que viver dessa maneira seja algo natural para nós.
O momento presente é inseparável da vida, portanto, na verdade, estamos decidindo que tipo de relacionamento querermos ter com a vida.
A decisão de converter o momento presente em nosso amigo é o fim do ego. Para o ego, é impossível estar alinhado com o momento presente, pois sua própria natureza o impele a ignorar ou desvalorizar o Agora.
O ego vive do tempo e, quanto mais forte ele é, mais o tempo controla a nossa vida. Assim, quase todos os nossos pensamentos expressam uma preocupação com o passado ou com o futuro, enquanto nosso sentido de eu depende do passado para nossa identidade e do futuro para preenchê-la. Medo, ansiedade, expectativa, arrependimento, culpa, raiva, são as disfunções do estado de consciência atado ao tempo.
Sempre se pergunte: “Qual é o meu relacionamento com o momento presente? Como o momento presente é tudo o que temos, uma vez que a Vida é inseparável do Agora, o verdadeiro significado daquela pergunta é: qual é o meu relacionamento com a vida? Na verdade, nós e o momento presente somos uma coisa só.
O tempo, ou seja, o passado e o futuro, é aquilo de que o falso eu fabricado pela mente, o ego, vive. E o tempo está na nossa mente.
O que estou propondo é a eliminação do tempo psicológico, que é a preocupação interminável da mente egoica com o passado e com o futuro e sua resistência de entrar em um estado de unicidade com a vida e viver alinhada com a inevitável condição do momento presente de ser o que é.
A chave para o poder maior do universo é a não resistência. Por meio dela, a consciência (espírito) é libertada do seu aprisionamento na forma.
Não julgamento
Tu não tens ideia da tremenda liberação e da profunda paz que vêm de te encontrares contigo mesmo e com teus irmãos totalmente sem julgamento
O julgamento sempre envolve rejeição
Toda situação traz duas opções: julgar ou perdoar
Um curso em milagres
O não julgamento é uma prática rigorosa para desistir de suas opiniões e julgamentos, mas as pessoas ficam surpresas como, em um período de tempo tão curto, podem ter muito mais paz. Eles podem literalmente, apenas abandonando seus próprios julgamentos, transformar todos os relacionamentos que eles têm.
Quando prestamos atenção aos nossos pensamentos, aprendemos que a voz do julgamento é forte, habitual e autoritária Começamos a ver que nossa resposta automática é, na verdade, um pensamento padronizado que declara opiniões sobre quase tudo. Expressa absolutos opostos como bom ou mau, preto ou branco, gostar ou não gostar e ok ou não-ok.
“Se temos que encontrar uma maneira mais eficaz de lidar com o estresse em nossas vidas, a primeira coisa que temos que fazer é nos tornarmos cientes dos julgamentos automáticos para que possamos ver através de nossos próprios preconceitos e medos, e assim nos liberarmos desta tirania.”
Jon Kabat Zinn
Há uma explosão de pensamentos de julgamento na cabeça da maioria das pessoas que acontecem tão rapidamente que nem percebemos que normalmente tomamos nossas decisões com base nesses julgamentos protetores.
Acabamos distorcendo a realidade por meio de nossos julgamentos. Acabamos ficando presos e escravos de nossas próprias mentes.
O eu separado faz isso como uma forma de resistir a estar com o que está acontecendo agora no momento presente. Em vez de estar feliz, amoroso e em paz agora, a mente do ego faz um julgamento sobre a experiência presente.
É importante dizer que é da natureza da mente pensar e julgar. Porém, podemos praticar o não julgamento.
“Sempre que não encobrimos o mundo com palavras e rótulos, retorna a nossa vida a sensação do milagre, que foi perdida muito tempo atrás, quando a humanidade, em vez de usar o pensamento, deixou-se possuir por ele. Quanto mais rápido somos em ligar rótulos verbais ou mentais a coisas, pessoas ou situações, mais superficial e sem vida nossa realidade se torna.”
Observe como a mente continuamente julga o comportamento e atribui nome as coisas, entenda como esse processo cria sofrimento e infelicidade. A maior parte do sofrimento humano é desnecessário, ele se forma sozinho, enquanto a mente superficial governa a vida. O sofrimento que sentimos é sempre alguma forma de não aceitação, resistência ao que é. No nível do pensamento é através do pensamento, no emocional é negatividade”
Eckhart Tolle
Uma dica bem legal que o Deepak Chopra fala no seu livro “As 7 leis espirituais do sucesso” é fazer uma oração que diz: “Hoje não julgarei nada que aconteça”. O não julgamento cria o silêncio em sua mente. É uma boa ideia começar o dia com essa frase e, durante o dia, lembrar dela toda vez que se perceber julgando algo.
Desapego
Desapegue-se. Não estrague um bom HOJE pensando sobre um ONTEM ruim.
Deixar ir, também chamado de desapego, trata-se de você deixar ir (soltar) pensamentos e sentimentos que causam sofrimento. Isso geralmente é o oposto que fazemos, pois temos essa tendência de ficarmos segurando nosso sofrimento.
“Quando nos apegamos a pensamentos e memórias, estamos nos apegando ao que não pode ser “tocado”. Quando tocamos esses fantasmas e os deixamos ir, podemos descobrir um espaço, uma pausa na conversa, um vislumbre de céu aberto. Este é o nosso direito de nascença – a sabedoria com a qual nascemos, a vasta demonstração de riqueza primordial, abertura primordial, a própria sabedoria primordial.
Tudo o que é necessário então é descansar sem distração no presente imediato, neste exato instante no tempo. E se formos atraídos por pensamentos, anseios, esperanças e medos, repetidamente podemos retornar a este momento presente. Estamos aqui. Somos levados como se fosse pelo vento e, como se fosse pelo vento, somos trazidos de volta. Quando um pensamento termina e outro não começa, podemos descansar nesse espaço. Treinamos para voltar ao coração imutável deste exato momento. Toda compaixão e toda inspiração vêm disso.”
Pema Chödrön
Esteja consciente de que as situações são sempre efêmeras, o que se deve a transitoriedade de todas as formas. Quando reconhecemos isso, nosso apego diminui e praticamente deixamos de nos identificar com a forma. O desapego nos permite desenvolver um ponto de vista privilegiado que nos permite observar os acontecimentos em vez de ficarmos presos dentro deles.
“Não é a impermanência que nos faz sofrer. O que nos faz sofrer é querer que as coisas sejam permanentes quando na verdade elas não são”
Thich Nhat Hanh
Separar-se de objetos, pessoas e resultados também é um sinal de liberdade e iluminação no budismo. Novamente, não de uma forma indiferente. Trata-se de não colocar todas as nossas esperanças e sonhos em resultados que estão além do nosso controle – o que, claro, leva à angústia e à infelicidade.
Desapego trata-se de reconhecer que nada externo pode ter dar a real felicidade. Não se apegue a nada pois tudo é impermanente nesse mundo! Esse trecho do livro “No coração da Vida” da Jetsunma Tenzin Palmo explica muito bem sobre nossa mente apegosa e sobre como essa tendência mental de agarrar e segurar só nos gera sofrimento:
“Queremos segurança e acreditamos que nossa felicidade reside em estarmos seguros e assim tentamos tornar as coisas permanentes. Mas não existe segurança nisso, porque a segurança é muito insegura. A verdadeira segurança vem do conforto com a insegurança. Ficarmos a vontade com o fluxo das coisas, ficarmos a vontade ao estarmos inseguros, essa é a maior segurança. Enquanto tentamos solidificar, manter as coisas do jeito que são, porque isso nos faz sentir seguros e protegidos, essa atitude vai contra o fluxo da vida. Tudo muda, de momento a momento. A natureza das coisas é vir a existir, durar por um tempo e acabar. O ciclo é esse. O que nos causa dor é nossa não aceitação disso. Seguramos tudo com muita força, com medo de perde-las. Tudo esta fluindo
(…) Fazemos isso o tempo todo. Estamos apegados as nossas posses, estamos apegados as pessoas que amamos, estamos apegados a nossa posição no mundo, á nossa carreira e tudo o que conquistamos. Pensamos que segurar firmemente a essas coisas e as pessoas nos trará segurança e que a segurança nos trará felicidade. Essa é a nossa delusão fundamental, pois é o próprio apego que nos faz sentir inseguros e é a insegurança que nos da a sensação de mal estar, de desconforto. O caminho para a Felicidade é solta. É essa mente que agarra, que se fixa que é a causa do nosso sofrimento
Agarra-se as pessoas e coisas nos revela nosso medo de perde-las. E quando de fato as perdemos, nos lamentamos. Em vez de segurar as coisas com todas as forças, podemos segurar de leve. Assim, enquanto tivermos essas coisas e nessas relações as apreciaremos. Nós as valorizaremos. Mas se elas se forem, bem.. este é o fluxo das coisas. Quando não há esperanças ou medo na mente, a mente é livre. O problema é a nossa mente gananciosa, que se agarra.
Buda explicou o porquê do sofrimento. Nossa vida cotidiana é feita de sofrimentos porque nos fixamos. Seguramos tudo com força mas tudo é impermanente. O problema não são as coisas e sim nossa mente que se fixa as coisas
Uma mente mais pacífica, mais centrada, capaz de segurar as coisas de leve, que não está sempre se agarrando, que não é constantemente agitada pelas ondas de nossas esperanças e medos, é uma mente feliz, uma mente que está assentada, que vê as coisas de forma clara e com um coração aberto para os outros, é uma mente feliz e essa felicidade não depende de circunstâncias externas. Essa mente é capaz de surfar nas ondas de nossas dores e prazeres. A resposta está dentro de nós.
No coração da vida – Jetsunma Tenzin Palmo
“A vida é abençoada por ser mutável. Completamente natural. O que não é natural é tentar segurar a vida quando ela quer se mover”
Mooji
A maioria de nós somos vítimas de nossos próprios pensamentos, mente, emoções. A maior parte do sofrimento humano é autogerado. Nossos pensamentos são nossa principal causa de sofrimento. Por isso, uma das coisas mais importantes nessa jornada é você começar a cultivar o desapego de seus pensamentos improdutivos e inúteis.
Não vigiar a mente é como deixar a porta de sua casa escancarada. Qualquer coisa entra e leva embora a sua paz.
O grande problema da humanidade é acreditar que ela é a mente, então quando surge um pensamento elas simplesmente já o aceitam como verdadeiro, sem questioná-los.
Basicamente a mente da maioria das pessoas está no piloto automático. Isso que significa ser inconsciente espiritualmente – quando você acredita que tudo o que sua mente diz corresponde à realidade, que tudo o que sua mente diz é a verdade e ponto final.
Consequentemente, elas vivem no passado, sempre de acordo com o senso de identidade que construíram acerca de si mesmas, que é formado por pensamentos e reações emocionais. É justamente isso que o ego é!
O ego é um conglomerado de formas de pensamentos recorrentes e de padrões emocionais e mentais condicionados que estão investidos de uma percepção do eu.
Por isso, se você quer realmente ser um mestre de si mesmo e livre, comece a questionar seus pensamentos!
O “exercício” que você deve começar a fazer é quando um pensamento negativo aparecer, não se envolva com ele! Não compre o que ele fala! Não o classifique como certo ou errado! Apenas observe-o, desapegue-se dele, deixe-o passar.
Um pensamento é só um pensamento. O pensamento só tem poder se você acreditar nele. Quanto mais você resistir e lutar com um pensamento, mais poder dá a ele.
Veja pensamentos apenas como sugestões que a mente te lança para te proteger, de acordo com as experiencias que você vivenciou no passado. Você não precisa acreditar em tudo o que sua mente te joga. São apenas sugestões!
Portanto quando a mente te jogar algo negativo: Agradeça a sugestão e assuma o controle, não simplesmente acredite!
Pratique o desapegar-se de seus pensamentos.
5 coisas que você não pode controlar
Concedei-nos, Senhor, serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguirmos umas das outras.
- O que os outros pensam e sentem sobre você
- O que os outros fazem
- O que acontece a sua volta
- O resultado de seus esforços
- A passagem do tempo
Essas são coisas que podemos deixar ir, para focarmos no que realmente temos controle!
O que está sob o seu controle
- Seus pensamentos
- Suas ações e esforços
- Suas palavras
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