Imagine você ter usado uma armadura por tanto tempo que não consegue mais tirá-la? Ou pior, nem mesmo se lembra de como você realmente era.
O livro “O cavaleiro Preso na Armadura: Uma fábula para quem busca o caminho da verdade” de Robert Fisher mostra a história de um personagem que está em um caminho espiritual de autodescoberta … de se tornar um com sua verdadeira natureza.
O que você testemunha nesta história de aventura é o tipo de “alquimia” interna pela qual todos nós deveríamos passar em algum momento. Não há muitos livros que falem de forma tão simples e profunda sobre essa possibilidade de transformação humana.
Um outro livro que também retrata sobre a jornada espiritual é o “Caminho do Guerreiro Pacífico” de Dan Millman, que também recomendo a leitura!
A história principal do livro apresenta um cavaleiro único. O que você vê é um homem admirável à primeira vista: ele é corajoso, nobre e generoso… Mas não demorará muito para você notar outra coisa: Ele está tão apaixonado pela forma como sua armadura brilha que ele não consegue apreciar mais nada. Observamos isso no seguinte trecho do livro:
“Com o passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura, que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua família se esqueceu de sua aparência sem a armadura”
Até que um dia, a esposa, que estava se sentindo totalmente infeliz e sozinha, disse para o cavaleiro que se ele não tirasse a sua armadura, ela e o filho iriam abandoná-lo. O cavaleiro, tentando preservar o seu casamento, tenta retirar sua armadura mas não consegue! Ela ficou presa no seu corpo, não saia de forma alguma!
Ele acaba se tornando um prisioneiro de si mesmo.. A partir dai, o cavaleiro parte numa jornada para tentar se libertar do peso e sofrimento que essa armadura estava lhe causando, para se relembrar de quem realmente ele era. Ele parte, então, em uma jornada espiritual de transformação e superação de obstáculos.
Existem algumas pérolas de sabedoria nesse livro que irei comentar logo abaixo, então não deixe de ler até o final!
O que está por baixo de sua armadura?
A maioria de nós está aprisionada no interior de uma armadura — declarou o rei.
O que o senhor quer dizer? — perguntou o cavaleiro. Nós levantamos barreiras para proteger quem pensamos ser. Então um dia ficamos presos atrás das barreiras e não conseguimos mais sair.
A verdade é que, de uma forma ou de outra, todos nós nos levantamos todos os dias com nossa própria armadura enferrujada. Continuamos apegados a muitas coisas que já não servem mais, que são apenas cargas desnecessárias, mas que temos medo de deixá-las ir, pois ficamos com medo de largar o que funcionou até agora, o que nos é familiar, confortável e seguro.
O senso de “eu” que temos é composto majoritariamente de histórias que contamos a nós mesmos, que são derivadas de nossas experiências do passado. Porém, você é o seu passado? Ou ele existe somente no seu psicológico, na forma de memória? Você é apenas uma memória? A totalidade de seu ser é definida apenas por um pensamento? Temos que investigar tais suposições, pois se não, vamos ficar presos a algo que não existe mais, que está apenas na nossa memória e não tem existência real no presente.
“A memória não é a verdade e nunca poderá ser, porque a verdade é sempre viva, a verdade é vida. A memória é a persistência daquilo que não existe mais. É viver em um mundo de fantasmas, mas ele nos contém, é a nossa prisão.”
OSHO
“O agora importa mais do que qualquer outro momento, pois é o que você está fazendo hoje que está determinando em quem você está se tornando e quem você está se tornando sempre determinará a qualidade e direção de sua vida”
Hal Elrod
O problema, é que enquanto você não soltar essas histórias, nada de novo pode entrar! Temos que deixar ir todas essas coisas que já não servem mais! Temos que nos perdoar e seguir em frente, na direção que desejarmos!
Uma das passagens desse livro diz o seguinte:
“Você não compreende porque tenta compreender com a mente, mas a mente é limitada.
Tenho uma mente muito boa — argumentou o cavaleiro.
Além de muito esperta — acrescentou Merlin. — Ela o aprisionou nessa armadura toda.“
Isso nos leva ao segundo item que é:
Liberte-se do passado!
Esse trecho do livro a seguir fala exatamente sobre esse processo de soltar/desapegar de coisas que não nos servem mais:
“Embora possua este universo, nada possuo, pois não posso conhecer o desconhecido, se ao conhecido me agarro.“
Resumindo: Todos nos temos alguns “conhecidos” que nos agarramos durante toda a nossa vida. Por exemplo, sua identidade — quem você pensa que é e o que não é, suas crenças — tudo aquilo que pensa ser verdadeiro e que pensa ser falso. E seus julgamentos — as coisas que considera boas e as coisas que considera ruins.
Para conhecermos nosso verdadeiro eu, temos que nos libertar do conhecido, das coisas que estamos apegados – que são justamente elas que estão nos limitando, nos restringindo. Temos que soltar! E acreditar!
A Importância do Silêncio para o Autoconhecimento
Muitas grandes tradições espirituais honram a prática do silêncio como uma forma de aprofundar a conexão com nosso ser mais íntimo.
“Dentro de cada um de nós, há um silêncio, um silêncio tão vasto quanto o universo. E quando experimentamos esse silêncio, nos lembramos de quem somos …”
Gunilla Norris
“Você nunca é mais essencialmente você mesmo do que quando está em silêncio.”
Eckhart Tolle
No livro “O cavaleiro preso na armadura” as seguintes passagens mostram a importância do silêncio para o autoconhecimento:
“Ficar em silêncio significa mais do que não falar — disse o rei. — Descobri que, quando estava com alguém, mostrava apenas a minha melhor imagem. Não deixava as barreiras cederem e não permitia que nem eu nem a outra pessoa víssemos o que eu estava tentando esconder. É preciso ficar sozinho para deixar a armadura cair“
Foi somente quando o cavaleiro ficou em silêncio que ele, pela primeira vez, ouviu a voz do seu verdadeiro eu:
“Tenho estado por perto há anos — replicou a voz —, mas esta é a primeira vez que você fica quieto o bastante para me escutar.”
Como podemos nos conhecer se estamos a todo momento rodeados de pessoas nos dizendo quem somos, nos dizendo o que fazer, nos criticando – ou seja, rodeados de todo esse barulho? O autoconhecimento só é possível quando você está em silêncio!
O Caminho da verdade: acordar ou permanecer dormindo
Nessa vida, temos apenas duas opções: acordar ou permanecer dormindo. Para acordarmos, temos que trilhar o caminho da verdade – colocando-a acima de tudo!
O cavaleiro, sabendo que iria enfrentar uma árdua jornada nesse caminho, hesitou por um momento e disse:
“Não sei se vale a pena. O que vou ganhar quando atingir o topo?
É o que você vai perder — Merlin explicou. — A armadura!”
O cavaleiro se viu diante de duas escolhas: Ele poderia voltar ao caminho antigo, continuando preso a armadura e se tornando cada vez mais isolado e infeliz ou prosseguir nesse caminho totalmente novo e desconhecido: o caminho da verdade! O cavalheiro, escolhe então, prosseguir no caminho da verdade – uma escolha que todas as pessoas comprometidas com a verdade também deve realizar
Amar a si mesmo
Aprender a amar a si mesmo só é possível com o autoconhecimento! Isso envolve você aceitar a totalidade de quem você é, tanto suas qualidades quanto os seus defeitos! Significa reconhecer que você é perfeitamente imperfeito! O amor próprio envolve diversos fatores, como: perdoar a si mesmo, cuidar de si mesmo (fisicamente e mentalmente), estabelecer limites pessoais, ser o seu melhor amigo, não se julgar negativamente etc)
Isso é demonstrado na seguinte passagem do livro:
“Sim — ele concordou —, há uma outra batalha a ser travada no Caminho da Verdade. A luta será aprender a amar a si mesmo.”
Como farei isso? — perguntou o cavaleiro.
Para começar, você tem de aprender a se conhecer — respondeu Merlin. — Essa batalha não pode ser vencida com sua espada, portanto você pode deixá-la aqui.
Liberação de emoções
“Lágrimas de sentimentos reais vão me libertar da minha armadura!”
Reconhecer suas próprias necessidades e se conectar com as emoções reprimidas dentro de você são os primeiros passos para tirar o peso da armadura dos ombros. Quando se trata de se livrar dessa ferrugem, não há nada melhor do que arejar as coisas, liberar a tensão, chorar …
O ego sobrevive e se esconde justamente nessas emoções reprimidas que não nos permitimos sentir e que não trazemos a luz de nossa consciência.
Ao longo de nossa vida, acumulamos uma quantidade gigantesca de sofrimento e dificilmente paramos para reconhecê-lo e processá-lo. Toda essa carga emocional negativa torna-se quase como uma entidade viva dentro de nós, e ela só continua sobrevivendo pois não a reconhecemos e não a tornamos consciente – ao invés disso – continuamos fingindo que essa carga emocional negativa não existe, por meio da repressão, negação, projeção e escapismos.
“A tristeza… Ela arranca as raízes podres, para que novas raízes escondidas por baixo tenham espaço suficiente para crescerem. Qualquer que seja a tristeza que sacuda o seu coração, coisas muito melhores tomarão o seu lugar”
“Não se perca na sua dor, saiba que um dia a sua dor irá tornar-se a própria cura.”
Rumi
Resumindo
A felicidade, o amor e a paz surgem conforme vamos nos liberando de nossa armadura. Por baixo de nossa armadura está o nosso verdadeiro eu! Toda o trabalho espiritual consiste em nos livrarmos de nossas limitações que nos prendem a pequenez, que nos prendem a um estado de ser limitado para nos relembrarmos de nossa verdadeira natureza ilimitada.
“A escuridão é a ausência de luz. O ego é a ausência de consciência. “
“A felicidade é a morte do ego”
OSHO
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