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Lições de Sêneca Para Uma Vida Feliz (Da Felicidade)

Tempo de leitura: 17 min

Escrito por Davi Klein
em junho 14, 2021

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Em “Da felicidade”, Sêneca convida-nos a vencer os reveses da sorte, deixando de lado os prazeres, não valorizando as riquezas e eliminando aquilo que nos traz infelicidade. Afirma que a felicidade se constrói através da razão, da retidão, da harmonia com o universo. O filósofo defende uma vida sem abusos para evitar as doenças do corpo e da mente.

O texto é uma exortação de Sêneca ao seu irmão Galião e configura-se como uma apologia ao epicurismo. No tratado em questão, o filósofo aconselha o irmão a uma autonomia de pensamento, criticando a falta de opinião da maioria do povo.

Segundo ele, é preciso pensar por si próprio, não se deixar conduzir, realizar o bem e não apenas aquilo que é frequentemente feito.

A tranquilidade e a liberdade são o resultado de uma vida separada dos prazeres, do poder, das riquezas, da ostentação, da luxúria, da gula e dos males em geral. Deve-se praticar a virtude em detrimento do vício para ser feliz.

Do seu ponto de vista, a posse de bens materiais oferece ao sábio mais formas de praticar a sua filosofia que a pobreza. Assim, o que diferencia o filósofo não é a ausência de bens, mas sua tentativa em praticar a virtude e evitar o prazer, mesmo que não tenha sucesso nessa jornada. O que importa é sua relação com esses bens, seu desapego à fortuna, seu desejo de alcançar a sabedoria.

Separei aqui, algumas das principais parte do tratado moral de Sêneca “Da felicidade” e resumi em algumas das principais lições que podemos tirar dele:

Da Felicidade

Tenha uma visão e tenha a coragem de segui-la!

Todos os homens, caro Galião, querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a vida feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos nos enganar no caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior a distância.

Devemos determinar, por isso, em primeiro lugar, o que desejamos e, em seguida, por onde podemos avançar mais rapidamente nesse sentido. Dessa forma, veremos ao longo do percurso, sendo este o adequado, o quanto nos adiantamos cada dia e o quanto nos aproximamos de nosso objetivo.

No entanto, se perambularmos daqui para lá sem seguir outro guia senão os rumores e os chamados discordantes que nos levam a vários lugares, nossa curta vida se consumirá em erros, ainda que trabalhemos dia e noite para melhorar o nosso espírito.

Devemos decidir, por conseguinte, para onde vamos nos dirigir e por onde, não sem a ajuda de algum homem sábio que haja explorado o caminho pelo qual avançamos, porque a situação aqui não é a mesma que em outras viagens; nestas há atalhos, e os habitantes a quem se pergunta o caminho não permitem que nos extraviemos.

Não siga a multidão, não copie os outros!

Quanto mais frequentado e mais conhecido que seja o trajeto, maior é o risco de ficar à deriva. Nada é mais importante, portanto, que não seguir como ovelhas o rebanho dos que nos precederam, indo assim não aonde querem que se vá, senão aonde se deseja ir.

E, certamente, nada é pior do que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo a que todos se submetem, considerar bons os exemplos numerosos e não viver racionalmente, mas sim por imitação.

É prejudicial, portanto, apegar-se aos que estão à tua frente, ainda mais quando cada um prefere crer em lugar de julgar por si mesmo, deixando de emitir juízo próprio sobre a vida. Por isso, adota-se, quase sempre, a postura alheia.

Morremos seguindo o exemplo dos demais. A saída é nos separarmos da massa e ficarmos a salvo.

Quando se trata da felicidade, não é adequado que me respondas de acordo com o costume da separação dos votos: “A maioria está deste lado, então, do outro está a parte pior”. Em se tratando de assuntos humanos, não é bom que as coisas melhores agradem à maioria. A multidão é argumento negativo.

Busquemos o melhor, não o mais comum, aquilo que conceda uma felicidade eterna, não o que aprova o vulgo, péssimo intérprete da verdade.

Sêneca

Chamo vulgo tanto àqueles que vestem a clâmide quanto aos que carregam coroas. Não olho a cor das roupas que adornam os corpos, não confio nos olhos para conhecer o homem. Tenho um instrumento melhor e mais confiável para discernir o verdadeiro do falso; o bem do espírito, o espírito o há de encontrar.

Foque no que é bom para o espírito e não nas aparências!

“Busquemos as coisas boas, não na aparência, mas sólidas e duradouras, mais belas no seu interior. Devemos descobri-las. Não estão longe, serão encontradas; apenas se precisa saber quando as encontramos. No entanto, passamos como cegos ao lado delas, tropeçando no que desejamos.”

Sêneca

Esteja alinhado com a natureza

Entretanto, de acordo com todos os estoicos, eu sigo a natureza. A sabedoria reside em não se afastar dela e adequar-se à sua lei e ao seu exemplo.

A felicidade é, por isso, o que está coerente com a própria natureza, aquilo que não pode acontecer além de si. Em primeiro lugar, a mente deve estar sã e em plena posse de suas faculdades; em segundo lugar, ser forte e ardente, magnânima e paciente, adaptável às circunstâncias, cuidar sem angústia do seu corpo e daquilo que lhe pertence, atenta às outras coisas que servem para a vida, sem admirar-se de nada; usar os dons da fortuna, sem ser escrava deles.

Busque as virtudes ao invés dos prazeres

Compreendes, ainda que não claramente, que disso advém uma constante tranquilidade e liberdade, uma vez afastadas as coisas que nos perturbam ou nos amedrontam.

Em lugar de prazeres e gozos mesquinhos e frágeis, até mesmo prejudiciais em sua desordem, que venha uma grande, inabalável e constante alegria e, ao mesmo tempo, a paz e a harmonia da alma, a generosidade com a doçura. Qualquer tipo de maldade é resultado de alguma deficiência.

“O bem supremo é uma alma que despreza as coisas fúteis e se satisfaz com a virtude”

Pode-se ainda dizer que o homem feliz é aquele para quem não existe nem bem nem mal, apenas uma alma boa ou má; que pratica o bem, contenta-se com a virtude, não se deixa nem elevar nem abater pelo destino, não conhece bem maior do que o que pode dar a ele próprio, para quem o verdadeiro prazer será o desprezo dos prazeres.

Podes, se gostas de digressões, apresentar a mesma ideia com outras imagens sem alterar o seu significado. Nada nos impede, na verdade, de dizer que a felicidade consiste em uma alma livre, sem medo e constante, inacessível ao temor e à ganância, para quem o único bem é a dignidade e o único mal é a desonestidade, sendo todo o restante um aglomerado de coisas que não retiram ou acrescentam nada à felicidade da vida. Em síntese, fatos que vão e vêm sem aumentar ou reduzir o bem supremo.

Ninguém pode ser feliz se não tiver a mente sadia, e, certamente, não a tem quem opta por aquilo que vai prejudicá-lo. É feliz, por isso, quem tem um julgamento correto. Feliz é aquele que, satisfeito com sua condição, desfruta dela. Feliz é quem entrega à razão a condução de toda a sua vida”

Sêneca

Digo ainda que o prazer está ligado à vida mais infame, mas a virtude não aceita a desonestidade. Há indivíduos descontentes não por causa da falta de prazer, mas em decorrência do prazer em si, o que não aconteceria se o prazer estivesse ligado à virtude. A virtude frequentemente abre mão do prazer e dele não tem necessidade.

A virtude é algo de elevado, nobre, invencível e infatigável. O prazer é fraco, servil, frágil e efêmero, cuja sede e casa são bordéis e tabernas. Você encontrará a virtude no templo, no fórum, na cúria, vigiando nossas muralhas. Anda coberta de poeira, queimada de sol e com as mãos cobertas de calos. O prazer, por sua vez, quase sempre anda escondido em busca de trevas, perto das casas de banho, lugares longe dos edis.

Apresenta-se flácido, frouxo, cheirando a vinho e a perfume, pálido, quando não cheirando a formol e parecendo embalsamado como um cadáver.

O bem supremo é imortal, não desaparecerá e não está familiarizado com tédio ou arrependimento, pois uma alma correta não muda nunca, não se aborrece, não se altera, porque sempre seguiu o caminho certo. Ao contrário disso, o prazer quanto mais deleita, logo se extingue.

Sendo limitado, fica logo satisfeito. Sujeito ao tédio, logo depois do primeiro ímpeto já se mostra fadigado. Não demonstra estabilidade porque é fugaz. Assim, não pode ter consistência aquilo que aparece e desaparece como um relâmpago, destinado a findar no mesmo instante em que se faz presente. Em verdade, o fim já está próximo quando começa.

Importa que o prazer esteja presente tanto entre os bons quanto entre os maus e não deleite menos os malvados em suas torpezas do que os bons em suas ações honestas?

É por isso que os antigos recomendavam seguir a vida melhor e não a mais agradável, de modo que o prazer se torne um aliado e não o guia da vontade digna e honesta.

É a natureza quem deve nos guiar. A ela se dirige a razão em busca de conselho.

Que o homem não se deixe corromper nem dominar pelas coisas exteriores e somente olhe para si mesmo, que confie em seu espírito e esteja preparado para o que o destino lhe envie, isto é, que seja o próprio artífice de sua vida.

Portanto, podes declarar resolutamente que o supremo bem é a harmonia da alma, porque as virtudes devem estar onde estão a harmonia e a unidade; os vícios são aqueles que discordam.

“Mas tu mesmo”, dizes, “praticas a virtude porque esperas que te traga algum prazer.” Em primeiro lugar, se a virtude há de proporcionar prazer, então por isso mesmo é desejada. Não é porque ela proporciona tal satisfação que deve ser buscada e, sim, porque, sobretudo, daí advém algum prazer. O empenho em busca da virtude não ocorre em razão do prazer, mas em vista de outro objetivo, embora possa decorrer algum prazer dessa busca.

Embora em campo lavrado possam aparecer algumas flores, não foi por causa de tais plantas, ainda que proporcionem uma bela visão, que foi gasto tanto trabalho. A intenção do semeador era outra. O “a mais” é apenas um acréscimo eventual. Dessa forma, o prazer também não é o valor nem o motivo da virtude, mas, sim, um acessório.

O bem supremo reside no próprio julgamento e na estruturação de um espírito perfeito que, respeitando os seus limites, realiza-se plenamente de maneira a mais nada desejar.

A virtude é o bem supremo e é inseparável da felicidade

Enganas-te ao questionar acerca do motivo que me leva a desejar a virtude; procuras, então, buscar algo além do que consideras o máximo, dizes.

Queres saber que vantagem tiro da virtude? Apenas ela mesma, ela é o maior prêmio. Isso te parece pouca coisa? Se digo: o bem supremo é a firmeza, a previsão, a agudeza, a liberdade, a harmonia e a dignidade de uma alma inquebrantável, poderias ainda imaginar algo de mais grandioso a que se referem todas essas coisas? Por que falar de prazer? Eu busco o bem do homem, não a barriga que em bestas e feras é maior.

“Eu também não creio que alguém possa viver feliz sem que viva de modo virtuoso. Isso não vale para os animais nem para quem mede a felicidade apenas pela comida. Afirmo, claramente, que a vida que eu chamo agradável não deve ser outra senão a que esteja ligada à virtude.”

Ninguém ignora que alguns homens pensam apenas nos prazeres, e que a alma sugere prazeres e gozos exuberantes. Em primeiro lugar, a insolência e a excessiva autoestima; o orgulho que despreza o outro; o amor cego pelas próprias coisas; a euforia por pequenos e fúteis pretextos; a maledicência com a soberba violenta; a inércia e a indolência que, cansada pelo acúmulo de prazeres, acaba dormindo sobre si mesma.

A virtude rejeita tudo isso. Para todas essas coisas, faz-se surda. Ela avalia o prazer antes de aceitá-lo. Não o acolhe para simples deleite, ao contrário, fica feliz em poder fazer uso dele com moderação.

“O equilíbrio ao limitar o prazer é lesivo para o bem supremo.” Ao falares assim, estás privilegiando o prazer. Eu o controlo. Tu o desfrutas, eu apenas me sirvo dele. Tu acreditas que ele seja o bem supremo; para mim sequer é bem. Tu fazes tudo por prazer; eu, nada.

Penso que não é sensato chamar sábio a quem está escravizado por alguma coisa, ainda mais pela volúpia. De fato, se estiver totalmente sujeito àquilo, como poderia vencer o perigo, a pobreza em torno da vida humana? Como suportar a visão da morte e da dor; como enfrentar o estrépito do mundo amargo e de tantos inimigos violentos, quando se submete diante de um adversário tão débil?

Também não levam em consideração o quanto era moderado o prazer segundo Epicuro, mas apegam-se apenas ao nome dele, esperando encontrar justificativa e apoio para uma vida devassa e corrupta.

De fato, elogiam aquilo que os arruína enquanto se afundam em vícios. Por isso, sequer é possível corrigirem-se, uma vez que se aplica um título honroso para uma indolência vergonhosa. Esta é a razão por que este elogio do prazer é prejudicial: os preceitos virtuosos ficam escondidos; o que corrompe está manifesto.

Eu próprio sou de opinião (afirmo isso apesar do que dizem nossos partidários) que os preceitos de Epicuro são nobres e corretos e, se analisados sob uma perspectiva mais acurada, até severos. Ele reduz o prazer a algo pequeno e mesquinho.

Quem se aproxima da virtude demonstra ter índole nobre. Ao contrário, quem segue o prazer demonstra ser fraco, degenerado, propenso ao vício mais sórdido, a não ser que haja quem o faça enxergar a diferença entre os prazeres e, dessa maneira, possa aprender quais deles são os que se encaixam nos limites da necessidade natural e quais os imoderados e insaciáveis, aqueles que quanto mais procurados mais se tornam exigentes.

Que a virtude tenha precedência, pois, assim, estaremos em segurança. O prazer excessivo prejudica; na virtude não há de se temer o excesso, porque ela mesma contém em si a medida adequada. Não poderia ser um bem o que padece por sua própria magnitude.

Para os que foram privilegiados com uma natureza racional, o que poderia ser-lhes oferecido de melhor senão a própria razão? Se é desejável tal união, se se quer que a felicidade acompanhe, a virtude deve permanecer à frente, e o prazer deve acompanhá-la, mantendo-se tão perto como a sombra de um corpo.

No entanto, fazer da virtude escrava do prazer é coisa de uma alma incapaz de algo maior. Que a virtude seja quem leva o estandarte. Dos prazeres, devemos fazer uso moderado.

Algumas vezes, os prazeres poderão nos levar a alguma concessão, mas não devem nunca nos impor nada. Mas aqueles que tenham se entregue ao comando do prazer enfrentarão duas dificuldades. Primeiro, perdem a virtude e não têm o prazer, pois por ele são dominados; ou se atormentam pela sua falta, ou se sufocam em sua abundância. Infeliz quem dele se afasta, mas muito mais quem por ele for soterrado.

Este é o resultado do excesso de prazer e de amor cego a qualquer coisa. Aquele que prefere o mal ao bem se coloca em perigo caso alcance o seu objetivo. Cansado e não sem riscos, porta-se como se estivesse à caça de animais selvagens. Mesmo após a captura, deve portar-se cautelosamente, porque, frequentemente, costumam devorar seus donos. Dessa forma, os grandes prazeres acabam trazendo tragédias a quem os cultiva, deixando-os dominados por eles. Colocando-o frente a tudo o mais, o homem descuida, em primeiro lugar, da liberdade.

Poderias contestar: “O que impede a união de virtude e prazer como uma única coisa e o estabelecimento do bem supremo de modo que seja ao mesmo tempo nobre e agradável?” Acontece que não pode haver uma parte do virtuoso que não seja algo virtuoso, e o bem supremo não terá sua nobreza se guardar algo distinto do íntegro.

Nem mesmo a alegria que vem da virtude, embora seja um bem, é uma parte do bem absoluto. Assim são a alegria e a tranquilidade, ainda que se originem de boas causas. É certo que são coisas boas, mas não fazem parte do bem supremo. Dele são apenas consequência. Qualquer um que estabeleça uma aliança entre o prazer e a virtude, mesmo sem colocá-los em pé de igualdade, faz com que a fragilidade de um deles debilite o quanto haja de vigor no outro, e coloca sob jugo a liberdade que só é invencível se não conhece nada de mais precioso do que ela mesma.

Dessa forma, não se propicia para a virtude uma sólida e permanente base, passa-se a restringi-la à condição de instabilidade.

Como pode obedecer a deus e aceitar de bom grado tudo o que lhe ocorre, não queixar-se do destino e encontrar o lado positivo em qualquer evento, quando até o menor estímulo de prazer ou de dor o afeta? Quem se entrega aos prazeres não pode tornar-se defensor ou salvador da pátria nem protetor de seus amigos. Assim, deve-se colocar o bem supremo num lugar de onde nada possa de lá afastá-lo. A ele não deve ter acesso nem a dor, nem a esperança, nem o medo, nem qualquer outra coisa que possa ameaçá-lo. Só a virtude pode dele se aproximar.

Só a virtude pode lá chegar; passo a passo dominará o caminho, mantendo-se firme, suportando todos os imprevistos, sem resignação, mas com alegria, consciente de que as adversidades da vida fazem parte da lei da natureza.

Equanimidade: Aceite o que quer que te aconteça!

Terá sempre em mente o velho preceito: seguir a deus. Em vez disso, o que reclama, chora e geme é obrigado a fazer à força o que lhe é ordenado. Deixa-se arrastar, não caminha acompanhando os demais. É estupidez e falta de consciência da própria condição afligir-nos quando nos falta algo ou somos atingidos de forma mais violenta por adversidades.

Da mesma forma, ficar indignado com coisas que ocorrem tanto para os bons quanto para os maus, como doenças, luto, fraquezas e todos os demais infortúnios da vida humana. Devemos saber suportar com espírito forte tudo o que por lei universal nos é dado a enfrentar. É nossa obrigação suportar as condições da vida mortal e não nos perturbarmos com o que não está em nosso poder evitar. Nascemos em um reino onde obedecer a deus significa liberdade.

Conclusão

Para concluir, a verdadeira felicidade consiste na virtude. O que essa virtude te aconselha? Ela considera como bem apenas o que está unido à virtude e como mau o que tem ligação com a maldade. Mais ainda, manda que sejas inabalável, quer frente ao mal, quer junto ao bem, de forma a que possas imitar deus dentro dos limites de tua
própria capacidade.

O que ganhas com isso? Privilégios dignos dos deuses. Não serás forçado a nada. Não terás necessidade de nada. Serás livre, seguro e imutável. Nada tentarás executar em vão. Tudo ocorrerá conforme o teu desejo. Nada será contrário aos teus desejos nem à tua vontade.

“Então”, perguntas, “basta a virtude para viver feliz?” “Se é perfeita e divina, por que então não é suficiente, ou melhor ainda, mais do que suficiente? O que faltaria àquilo que está além de qualquer desejo?

Qual a diferença, então? A diferença reside em uns estarem algemados, outros decapitados e alguns estrangulados. Aquele que tenha atingido um plano superior, elevando-se ao máximo, leva algemas frouxas. Não se encontra ainda livre, mas já prevê a futura liberdade.

Quando a natureza solicitar o meu espírito, ou minha razão ordenar que eu o libere, partirei dizendo que sempre cultivei a retidão de caráter e as melhores intenções, sem haver reduzido a liberdade de ninguém, muito menos a minha. Qualquer pessoa que pretenda, que queira, que se proponha a fazer isso estará trilhando a estrada que leva aos deuses.

Da mesma forma, o sábio, não é considerado indigno ao ser agraciado pelo dom da fortuna. Não ama a riqueza, mas a aceita de bom grado. Permite que entre em sua casa, não a rejeita, desde que ela enseje oportunidades para a virtude.

Assim, não resta dúvida de que o homem sábio tem um campo mais vasto para desenvolver o seu espírito em meio à riqueza do que na pobreza. Na pobreza, a virtude consiste em não se deixar abater, não cair em desalento. Na riqueza, existe oportunidade para a temperança, a generosidade, o discernimento, a organização, a magnificência com total liberdade.

Volto a afirmar que as riquezas não são coisas boas em si mesmas. Se realmente fossem, elas nos tornariam bons. Não me é possível definir como algo bom em si aquilo que também faz parte da vida de maus indivíduos. Enfim, estou convicto de que riquezas são úteis e proporcionam grande conforto à vida.

Mesmo que o meu espírito seja atormentado por todos os lados com lutos, tristeza e contrariedades de qualquer tipo, de maneira que cada momento seja motivo de choro, nem por isso terei razão para reclamação. Mesmo sob tanta desgraça, não amaldiçoarei qualquer dia de minha vida. Tomei medidas para garantir que nenhum dia seja desastroso para mim.

De um lado, deve-se frear o espírito para não escorregar; de outro, empurrá-lo e incentivá-lo vivamente. Por isso, na pobreza, vamos fazer uso de virtudes aptas à luta; na riqueza, daquelas mais cuidadosas, que controlam os movimentos e mantêm o equilíbrio.

Qualquer um pode tirar a riqueza do sábio, mas não lhe tiram os bens verdadeiros, porque ele vive feliz no presente e está despreocupado com o futuro.

Olha a virtude com respeito; confia naqueles que, tendo-a seguido durante toda a vida, demonstram tratar-se de algo muito importante e que sempre ganha novas dimensões de grandeza.

Não deixe de conferir os outros tratados de Sêneca “Da vida retirada” (CLIQUE AQUI) e “Da tranquilidade da alma” (CLIQUE AQUI). Abraços e muita paz pra você!

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1 Comentário

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    Conteúdo maravilhoso! obrigado por compartilhar.

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