O caminho do guerreiro pacífico tornou- se uma das mais queridas sagas espirituais de nossa época.
Apesar do sucesso de sua carreira, o universitário e atleta campeão do mundo Dan Millman é perseguido por um sentimento de que algo está faltando na sua vida.
Despertado certa madrugada por um pesadelo sombrio, ele vai até um posto de gasolina, encontra um velho chamado Sócrates e seu mundo se modifica para sempre.
Este conto clássico, narrado com coração e humor, fala do guerreiro pacífico que existe em cada um de nós, o levando a descobrir o significa do e o propósito mais amplos da vida
O livro “O caminho do guerreiro pacífico” de Dan Millman foi baseado em fatos reais – e deu origem ao filme “Poder além da vida”.
O protagonista, Dan Millman (o próprio autor) esbarrou com Sócrates a primeira vez num posto de gasolina que ficava aberto a noite inteira (não era seu nome verdadeiro, foi um apelido que ele colocou). Esse encontro casual e as aventuras subsequentes transformaram a vida do autor.
Antes desse encontro, Dan Millman levava uma vida favorável. Foi criado bem pelos pais, num ambiente tranquilo, tinha ganhado o campeonato de acrobacias em Londres, tinha viajado pela Europa e sempre estava ganhando recompensas. Porém, mesmo com tudo isso, ainda não tinha a paz e uma satisfação duradoura.
Nas palavras do autor:
“Hoje percebo que de alguma maneira eu estivera dormindo durante todos aqueles anos, apenas sonhando que estava acordado – até conhecer Sócrates, que iria se tornar meu mentor e amigo. Antes disso, eu sempre achava que uma existência de bom nível, prazeres e sabedoria eram um direito meu inato e me seriam automaticamente concedidos com o passar do tempo. Jamais desconfiei que teria que aprender como viver – que havia disciplinas e modos específicos de ver o mundo, que eu precisava dominar antes de poder despertar para uma vida simples, feliz e descomplicada.“
“Sócrates apontou os erros do meu caminho, comparando-os com o caminho dele, o caminho do guerreiro pacífico. Costumava zombar de minha vida séria, problemática e cheia de preocupações, até que passei a enxergar através de seus olhos de sabedoria, compaixão e humor “
(…)Essa história baseia-se na minha aventura, mas é um romance. O homem a quem dei nome de Sócrates realmente existiu…
Resenha
Dan Millman estava no topo do mundo: estava numa faculdade boa, ia bem nos estudos, era um atleta de ginástica que estava crescendo, ganhando campeonatos, popularidade e fama, frequentemente visitava outros países, várias mulheres gostavam dele etc. Porém, mesmo com tudo isso, ele começou a sentir uma melancolia crescente e começara, também, a ter pesadelos frequentes.
Certa noite, Dan Millman não estava conseguindo dormir, então resolve sair de casa para dar uma corrida. Ele começou a ficar com fome e resolveu ir no posto, que ficava aberto 24h, para comprar algo para comer.
Ao chegar no posto, se deparou com um senhor de cabelo branco (o mesmo que tinha visto em seus sonhos). Tinha algo de muito peculiar nele, que atraiu o protagonista. Eles começaram a conversar e várias coisas mágicas acontecem – uma mistura de realidade com sonho. Sócrates diz algumas coisas bem interessantes ao rapaz:
“Somos todos bobos, só que alguns sabem disso e outros não.”
“Meu nome não interessa; nem o seu. O importante é o que está além dos nomes e das perguntas.”
“Como sabe que não esteve dormindo toda a sua vida? Como sabe que não está dormindo nesse exato momento?“
Sócrates fala para o rapaz voltar no dia seguinte, no mesmo horário. O rapaz, no dia seguinte, nem conseguiu prestar atenção na aula e treinar direito, pois ficou muito intrigado com aquele homem misterioso que ele chamará de Sócrates, que realizava coisas mágicas.
Dan Millman, então, volta no posto para ver Sócrates. Depois de ajudá-lo com algumas coisas, eles começam a conversar:
-Continuo querendo saber o que podemos fazer um pelo outro.
-Apenas isso: eu gostaria de ter um último aluno, e você, obviamente, precisa de um professor.
–Já tenho professores suficientes – diz Dan.
-“Ah tem? – Se você tem um professor adequando ou não, vai depender daquilo que você quer aprender (…) Este mundo é uma escola. A vida, na verdade, é o único professor possível. Ela oferece muitas experiências; mas se apenas a experiência proporcionasse sabedoria e realização, então os velhos seriam todos iluminados e satisfeitos. Mas a experiência oculta suas lições. Posso ajudá-lo a aprender com as experiências, a ver o mundo com clareza, que, neste momento, é só do que você precisa. Você já viveu muita coisa, mas pouco aprendeu.“
Sócrates continua e diz: “-Assim como a maioria das pessoas, você foi ensinado a conseguir informações fora de si mesmo: dos livros, revistas e autoridades” (ele começa a encher o tanque de gasolina de um carro até transbordar) -“Assim como este tanque, você está transbordando ideias preconcebidas, está repleto de informação inútil. Guarda muitas verdades e opiniões, mas sabe muito pouco sobre si mesmo. Antes de estar apto para aprender, terá, em primeiro lugar, que esvaziar o seu tanque. Você poderia limpar esta sujeira?”
–O que você pretende fazer? Encher-me com suas verdades? – Disse Dan.
–Não, não vou sobrecarregá-lo com mais verdades, mas mostrar-lhe a sua sabedoria corporal. Tudo o que você precisa saber esta aí, dentro de você. Os segredos do universo estão gravados nas células do seu corpo. Mas você ainda não aprendeu como ler a sabedoria do corpo. Seu único recurso tem sido ler livros e ouvir os especialistas, esperando que estejam certos. Você entende muita coisa mas não percebe nada. A compreensão é unidimensional. É a compreensão pelo intelecto que leva ao conhecimento. A percepção, por outro lado, é tridimensional. É a compreensão simultânea da cabeça, do coração e instinto. Ela provém unicamente da experiência pura.
-Utilize de todo o conhecimento de que dispõe, mas procure ver suas limitações. Apenas o conhecimento não basta; ele não tem coração. Nem todo o conhecimento do mundo conseguirá nutrir ou sustentar seu espírito, jamais poderá lhe proporcionar a felicidade ou a paz absoluta. A vida exige mais do que conhecimento; ela exige sentimentos profundos e energia constante. A vida requer ação correta, para que o conhecimento tenha vida.
-Sei disso, Soc.
-Esse é o seu problema…você sabe, mas não age. Você não é um guerreiro.
O guerreiro age, o tolo apenas reage. Seus sentimentos e reações, Dan, são automáticos e previsíveis, os meus não. Eu crio minha vida espontaneamente enquanto a sua é determinada pelos seus pensamentos e emoções do passado.
É melhor reconsiderar suas “prioridades” se quiser pelo menos a chance de se tornar um guerreiro. Nesse momento você possui a inteligência de um jumento e seu espírito é frágil.
-Sócrates, você me aconselhou a ouvir minha intuição corporal e não depender daquilo que leio ou do que as pessoas me dizem. Então, por que devo ficar aqui sentado em silêncio, ouvindo você?
Em primeiro lugar, falo por minha própria experiência. Não estou repetindo teorias abstratas, lidas em algum livro ou ouvidas de um especialista. Sou uma pessoa que conhece verdadeiramente o próprio corpo e a mente, portanto, conhece também os de outros.
As visitas que o garoto fazia ao Sócrates começaram a ficar mais interessantes do que as aulas de ginástica. A cada noite, o garota aprendia pequenas e variadas lições.
Uma vez por exemplo, Dan cometeu o erro de criticar o pessoal da faculdade. Soc respondeu o seguinte:
-É melhor você assumir a responsabilidade por sua vida em vez de culpar outras pessoas, ou as circunstâncias, por suas dificuldades. Se abrir os olhos, saberá que o seu estado de saúde, a felicidade e tudo o que acontece na vida, em grande parte, foi causado por você, consciente ou inconscientemente.
-Quando você assumir a inteira responsabilidade pelo sua vida, poderá tornar-se completamente humano; tornando-se humano, poderá descobrir o que significa ser um guerreiro.
Sócrates fazia muitas perguntas ao rapaz, querendo saber sobre os detalhes de sua vida. Dan pergunta, então, o motivo dele fazer tantas perguntas:
-Preciso entender suas ilusões pessoais, a fim de conhecer a gravidade da doença. Teremos de limpar a sua mente, e só então, a porta para o caminho do guerreiro se abrirá.
“Pela primeira vez compreendi por que amava tanto a ginástica. Ela me proporcionava uma trégua abençoada da mente ruidosa. Quando eu estava dando saltos mortais e lançando-me na barra, mais nada importava.”
Dan começou a perceber que isso não era só com ele: O mundo era habitado por mentes que giravam mais rápido que qualquer vento, em busca de distração e de um modo de escapar as dificuldades da mudança, ao dilema da vida e da morte, em busca de um objetivo, de segurança e de diversão, tentando compreender o sentido do mistério.
Todos, em toda parte, viviam uma busca confusa e amarga. A realidade nunca condizia com seus sonhos, a felicidade estava logo depois da esquina – uma esquina a que jamais chegavam. E a origem de tudo isso era a mente humana.
Dan, conforme vai passando tempo com Sócrates, tem inúmeras revelações. Uma delas ele consegue visualizar como seria seu futuro se ele não tivesse encontrado Sócrates – ele enxerga um futuro sombrio, sem nenhum felicidade. Sócrates diz para ele:
“Assim como existem diferentes interpretações do passado e muitas formas de se mudar o presente, há inúmeros futuros possíveis. O que você sonhou é um futuro altamente provável… o futuro para o qual você estava caminhando se não tivesse me encontrado. Mas se você fizer algumas escolhas e mudar as circunstâncias atuais, pode alterar seu futuro.“
A todo o momento, Sócrates ilumina Dan, e a nós, leitores, com sua sabedoria:
-Dan, você está sofrendo, não gosta realmente da sua vida. Seus divertimentos, suas distrações e até mesmo sua ginástica constituem formas temporárias de distraí-lo da sensação fundamental de medo.
-Espere um momento, Sóc – está dizendo que a ginástica, o sexo, o cinema são ruins?
-Não necessariamente. Mas para você são vícios, não distrações. Você os utiliza para distrair-se da sua vida interior caótica… Um desfile de desculpas, ansiedades e fantasias que você chama de sua mente. Você, Dan, em sua busca condicionada de realização e diversão, evita a origem fundamental do seu sofrimento.-Mas quase toda a humanidade tem a mesma dificuldade que você.
-E que dificuldade é essa?
–Se você não tem o que quer, sofre; se tem o que não quer, também sofre. Mesmo que você consiga exatamente o que quer, ainda assim você sofre, porque não pode se agarrar, seja ao que for, eternamente. Sua mente é a sua dificuldade. Ela quer se ver livre de mudança, livre da dor, livre das obrigações da vida e da morte. Mas a mudança é uma lei, e nenhuma simulação alterará essa realidade
Como você pode perceber, o livro “O caminho do guerreiro pacífico” está repleto de diálogos filosóficos e espirituais. Fiz uma seleção dos que considerei principais e irei compartilhá-los aqui:
-Então, quais são os usos positivos da mente?
-Nenhum
-Nenhum?! Sócrates, isso é loucura! E as criações da mente? Os livros, as bibliotecas, as artes? E todos os avanços da nossa sociedade, produzidos por mentes brilhantes?
-Não existem mentes brilhantes. Acho melhor redefinir alguns termos para você. “Mente” é uma dessas palavras tão escorregadias quanto “Amor”. A definição apropriada depende de seu nível de consciência. Considere dessa forma: você tem um cérebro que comanda o corpo, armazena informações e lida com essas informações. Aos processos abstratos do cérebro chamamos de “intelecto”. Em nenhum momento mencionei a mente. Cérebro e mente não são a mesma coisa. O cérebro é real, a mente não. A mente é o reflexo enganador de uma excitação do cérebro agitado. Inclui todos os pensamentos descontrolados, aleatórios, que afloram do subconscientes para o consciente. A consciência não é a mente, a percepção não é a mente, a atenção não é a mente. Ela é uma obstrução, um empecilho. É uma espécie de erro evolutivo no ser humano, uma fraqueza primordial da experiência humana. Não há nenhuma função que possa ser atribuída a mente.-Sóc – terei que cortar a cabeça para livrar-me da mente?
-É uma forma de cura, mas com efeitos colaterais indesejáveis. O cérebro pode ser um instrumento. Ele pode lembrar números de telefone, solucionar problemas matemáticos ou criar poesia. Dessa forma, ele trabalha para o resto do corpo, como uma máquina. Mas quando você não consegue parar de pensar no problema matemático ou no número de telefone, ou quando os pensamentos ou as lembranças incomodas afloram contra a sua vontade, não é o seu cérebro que trabalha, mas a mente que devaneios. Então é a mente que assume o controle, a máquina está desgovernada.
Uma ocasião, Sócrates faz Dan ter uma reflexão importantíssima sobre como a nossa mente descontrolada é responsável pela maior parte do sofrimento humano. Nessa ocasião, Dan fica “bravo” porque tinha começado uma chuva no meio do piquenique que eles estavam realizando:
-Primeiro, nem o seu desapontamento nem a raiva foram causados pela chuva. O seu aborrecimento com o fiasco do piquenique e a felicidade quando o sol reapareceu foram produzidos por seus pensamentos. Nada tiveram a ver com os acontecimentos reais. Nunca se sentiu infeliz em comemorações, por exemplo? Então é óbvio que é sua mente e não as pessoas ou o ambiente que causam esse estado de espírito. Essa é a primeira lição.
Dan começa, então, a treinar sua mente, por meio de praticas como meditação e atenção plena. Ele começa a se dar conta da quantidade gigantesca de pensamentos negativos que existem dentro dele, disparando a todo o momento.
-Sócrates! Vou enlouquecer se não conseguir diminuir o ruído! Minha mente está descontrolada!
-Ótimo! A primeira percepção de um guerreiro.
Isso me lembra quando comecei a praticar meditação. Uma das primeiras grandes descobertas que fiz foi justamente essa: Percebi que minha mente estava totalmente fora de controle! Mas isso é muito bom! Pois pela primeira vez você tomou consciência disso! O reconhecimento da loucura é o surgimento da cura.
Sócrates continua e fala sobre a origem da agitação mental:
“Os pensamentos estressantes refletem um conflito com a realidade. O stress só acontece quando a mente resiste ao que é”
“Veja só, Dan, é isso o que acontece quando você resiste: sua mente dispara. Os mesmos pensamentos que o invadem são, na verdade, criados por você.“
“-E a sua mente funciona de modo diferente?” – Pergunta Dan.
-Sim e não. Minha mente é um lago sem ondulações. A sua é repleta de ondas, porque você se sente dividido, e com frequência, ameaçado por um acontecimento indesejável. Um salto de percepção semelhante será exigido de você. Quando puder compreender claramente a fonte, vera que as ondulações da mente não tem a ver com você. Simplesmente as observara sem qualquer apego, não sendo mais impelido a agir cada vez que uma pedra for jogada. Você estará livre da turbulência do mundo, assim que parar de levar seus pensamentos tão a sério. Lembre-se, quando estiver perturbado, abandone o pensamento e ocupe-se da mente!
“Segundo o que você aprendeu no treinamento físico, os saltos de percepção não acontecem de uma vez: exigem tempo e pratica. E a prática da percepção da origem de suas próprias ondulações é a meditação.”
Sócrates também nos alerta para não usarmos a meditação como forma de nos mostrarmos, de aumentar ainda mais o seu ego só pelo fato de você estar realizando algo chamado meditação (como se fosse algo para você se exibir para os outros). Ele também dá vários insights a respeito sobre do que se trata a verdadeira meditação:
O silêncio é a arte do guerreiro e a meditação sua espada. Mas a utilidade da espada depende de quem a usa. Se não souber usá-la corretamente, ela poderá se tornar um instrumento perigoso, ilusório e até inútil. Inicialmente a meditação poderá ajudá-lo a relaxar. Você exibe a espada, mostra-a orgulhosamente a seus amigos. O brilho dessa espada distrai muitos meditadores, até que eles a abandonam e vai buscar outra prática esotérica.
O guerreiro por outro lado, usa a espada da meditação com habilidade e compreensão. Com ela, corta a mente em fatias, expondo os pensamentos e revelando sua falta de substância
Esse é o caminho do guerreiro da meditação. E é dessa maneira que você deve aprender a desatar os nós da sua mente.
Deixe-me analisar as coisas da seguinte maneira: uma cambalhota para frente não é toda a ginástica. Uma técnica de meditação não é todo o caminho do guerreiro. Se você não consegue compreender todo o quadro, poderá iludir-se, praticando apenas cambalhotas para frente, ou apenas a técnica de meditação, durante a vida inteira, conseguindo apenas os benefícios fragmentados do treinamento.
A meditação baseia-se em dois processos simultâneos: Um é a percepção instantânea, concentrando-se precisamente naquilo que se deseja ver. O outro processo é a entrega, o abandono de todos os pensamentos que surgirem. Assim você poderá livrar-se da mente.
A verdade é que a consciência não está no corpo e sim o corpo está na consciência. E você é essa consciência, não a mente fantasma que tanto o perturba. Você é o corpo mas é também todo o resto. Apenas a mente resiste a mudança. Assim, se você simplesmente relaxar o seu corpo, ficará contente e livre, sem a sensação de estar separado. A imortalidade já é sua, mas não dá forma que você imagina ou espera. Você é imortal desde antes de ter nascido, e ainda será, muito depois de o corpo terminar. O corpo é a consciência, nunca nasce, nunca morre, só muda. A mente, o ego, as convicções, a identidade, a história pessoal…é a única mortal, portanto, quem precisa dela?
-Por que um guerreiro deve se sentar e ficar meditando por aí? Perguntei – pensei que o caminho do guerreiro fosse uma forma de ação.
-Sentar-se para meditar é o início da prática. Em última análise, aprendera a meditar em todas as ações. Sentar-se para meditar serve como um ritual, um momento dedicado a aumentar a intensidade da prática. Você tem que dominar o ritual antes que possa usá-lo adequadamente na vida diária.
E o tempo foi passando. O verão passou rapidamente com treinos intensivos e noites insones, na companhia de Sócrates. Metade do tempo Dan praticava meditação e na outra ele trabalhava na garagem, junto com Sócrates e tomava chá. A iniciação de Dan chegará ao fim:
Ninguém poderá ajudá-lo além de determinado ponto, Dan. Eu orientarei você durante um certo tempo, mas depois, também terei que me retirar e você estará sozinho. Você será severamente testado antes de terminar. Terá que desenvolver uma grande força interior.
Neste momento Soc desperecera. A iniciação de Dan tinha chegado ao fim, e o verdadeiro treinamento, estava prestes a começar.
Como eu disse anteriormente, esse livro está repleto de frases incríveis:
-Como tirar proveito deste acidente?
–Não existem acidentes, Danny, tudo é uma lição, tudo tem um propósito. Um guerreiro não busca a dor, mas se ela vem, ele a usa
Sócrates dá mais instruções ao Dan, com intuito de ajudá-lo a encontrar o portão interior que o conduzira a salvação:
Dan, uma quantidade tremenda de energia será necessária para atravessar a névoa da sua mente e encontrar o portão. Por isso as práticas purificadoras e regeneradoras são essenciais.
Você irá readaptar todas as suas funções, como movimentar-se, dormir, respirar, pensar, sentir e comer. De todas as atividades humanas, comer é uma das mais importantes, e que será estabilizada em primeiro lugar. Sua dieta atual pode proporcionar uma quantidade normal de energia, mas grande parte daquilo que você come deixa você grogue, afeta seu estado de espírito e reduz o nível de consciência.Nossa fonte primordial de energia é o sol. No momento, uma dieta adequada permitirá a utilização mais direta da energia solar. Essa energia ajudará você a concentrar sua atenção, aguçando sua concentração até transformá-lo numa espada afiada.
Sócrates também comenta sobre a importância da respiração, para conectarmos a mente com o corpo:
Não se preocupe, Dan. Você só precisa relaxar um pouco. Agora que você sabe como é a respiração natural, você terá que se deixar respirar naturalmente, cada vez mais, até que a respiração seja normal. A respiração é um ponte entra a mente e o corpo, entre o sentir e o fazer. Equilibrar a respiração natural traz você de volta ao momento presente.
Sócrates comenta aqui sobre a importância de sermos inteiros, de agirmos com totalidade, consciência em tudo o que fizermos, sem espaço para dúvidas e hesitações (espírito vacilante):
-Há um provérbio que diz: “Quando sentar, sente-se. Quando se levantar, levante-se; o que quer que faça, não vacile”. Uma vez feita a escolhas, realize-a com todo o empenho. É melhor cometer um erro com toda a força de seu ser do que evitá-lo cuidadosamente com o espírito vacilante.
-E a moderação?
–Moderação? Isso é mediocridade, medo e confusão disfarçados. É a enganação racional do demônio. Não é fazer nem deixar de fazer. É o compromisso vacilante que não traz felicidade a ninguém. A moderação é nada os brandos, para aqueles que ficam sentados em cima do muro com medo de se posicionar. É para os que tem rir ou chorar, viver ou morrer. Moderação é chá morno, bem ao gosto do diabo. Ainda não captou a mensagem? Fumar não é repugnante, mas sim o hábito. Posso fumar um cigarro por dia e não fumar durante seis meses. E quando fumo, não finjo que meus pulmões não vão pagar o preço. Tomo a atitude correta, a fim de contrabalancear os efeitos negativos. Então não importa que meu comportamento seja coerente ou não com os seus padrões, e sim que eu não tenha compulsões ou hábitos. Meus atos são conscientes, espontâneos e completos“
Dan, conforme vai amadurecendo espiritualmente, começa a perceber que a medida que vai compreendendo melhor a si mesmo, também compreende melhor as outras pessoas, pois todos nós temos uma “mente”, um mecanismo de sobrevivência, que por sua natureza é muito medrosa e é repleta de ansiedades e frustrações:
“Por baixo de todas as nossas aparentes diferenças, todos partilhamos as mesmas necessidades e medos humanos, estamos todos no mesmo caminho, conduzindo-nos uns aos outros. A compreensão disso pode nos dar a compaixão. Sob as máscaras sociais que as pessoas usam, tenho visto seus medos comuns e as mentes perturbadas, e isso me tornou cínico, porque ainda não consegui ir além disso e ver a luz dentro delas”
Em determinando momento, Sócrates explica a Dan sobre o conceito de Satori (quando temos um vislumbre da verdadeira natureza da mente).
-Agora quero lhe falar sobre Satori, um conceito zen. Satori é o estado de espírito do guerreiro. Ele acontece quando a mente está livre de pensamentos e se torna pura consciência: o corpo está ativo, sensível relaxado e as emoções abertas e livres. Os esportes, a dança, a música ou qualquer outra atividade que exija desafios, pode servir como um portal para o Satori.
No decorrer da história, Dan finalmente consegue ganhar o campeonato de ginástica que tanto queria. Só que ele percebe uma coisa, na realidade aquilo não o deixara mais feliz do que antes. Percebeu que aquela busca que o motivava, pelo sucesso, fama, ambição, não significavam absolutamente nada para a sua felicidade:
Então tudo terminou, um objetivo tão almejado tinha sido alcançado. Só então percebi que os aplausos, os resultados e as vitórias não eram a mesma coisa. Eu tinha mudado muito, a busca do sucesso finalmente chegara ao fim.
Todos aqueles anos eu viverá sustentado por uma ilusão – a felicidade por intermédio da vitória – e agora essa ilusão queimará até às cinzas. Eu não estava mais feliz ou mais realizado depois de tudo o que conseguira.
Finalmente pude ver através das nuvens. O que eu vi é que jamais soubera aproveitar a vida; eu só sabia fazer. Toda a vida eu estivera ocupado buscando a felicidade, sem jamais encontrá-la ou experimentá-la.
Sócrates explica como nos separamos de Deus, da Fonte, Da Inteligência Universal, do Espírito (como você queira chamar) e como essa separação é a responsável por nossa infelicidade.
“Era o jardim do Éden. Toda criança habita um jardim luminoso, onde tudo é sentido diretamente , sem a interferência do pensamento, livre das crenças, intervenções e julgamentos.
A queda acontece a cada um de nós quando começamos a pensar, quando nos tornamos aqueles que dão nome as coisas e que sabem
Não foram só Adão e Eva, somos todos nós. O nascimento da mente é a morte dos sentidos. Jesus de Nazaré, um dos grandes guerreiros, certa vez disse que é preciso ser uma criancinha para entrar no Reino dos Céus.
Quando você era criança, tudo isso surgia diante dos seus olhos, dos seus ouvidos e do seu tato como se fosse a primeira vez. Mas agora você sabe o nome e a categoria de tudo. Isto é bom, aquilo é mau, isto é uma mesa, aquilo uma cadeira, isto é um carro, uma casa, uma flor, um cão, um gato, uma galinha, um homem, uma mulher, o por do sol, o mar, a estrela. Você se cansou das coisas porque elas passaram a existir apenas como nomes. Os conceitos áridos da mente obscurecem a sua visão.
Agora você enxerga tudo através do véu das associações que faz sobre as coisas, e esse véu encobre a percepção direta e simples. Você já “viu tudo isso antes” É como assistir um filme pela vigésima vez. Apenas a recordação das coisas é vista e isso o deixa entediado, preso em sua mente. É por isso que você terá que perder a mente para retornar aos sentidos.“
Isso é muito enfatizado ao longo do livro inteiro: A importância de mantermos nossa atenção no aqui e agora!
-Que horas são?
-São duas e trinta e cinco.
-Errado! O tempo foi, é e será sempre agora! A hora é agora, o tempo é agora, está claro? De agora em diante, sempre que sua atenção começar a se dispersar para outros tempos e lugares, quero-o de volta. Lembre-se: a hora é agora e o lugar aqui.
Sócrates também comenta a Dan que o propósito do guerreiro pacífico não é a invulnerabilidade, mas a vulnerabilidade absoluta ao mundo, a vida e a Presença que você sentiu.
“Tentei mostrar-lhe que a vida de um guerreiro não é a perfeição ou a vitória que se imagina, e sim o amor. O amor é a espada do guerreiro: onde quer que ela corte, trará vida e não morte”
Em determinado momento, Dan chega a um ponto crucial em sua jornada, em que apesar de todo o treinamento que tinha passado, ainda não estava plenamente satisfeito. Sócrates então, lhe aconselha o seguinte:
-Você está bem preparado, mas ainda está preso, Dan… Ainda está procurando. Que seja assim. Você procurará até se cansar completamente. Terá que se afastar por um tempo. Procure o que precisa e aprenda o que puder. Depois veremos. Nove ou dez anos devem ser o suficientes.
Então, Dan sai em uma viagem e visita diversos países ao redor do mundo – Havaí, Japão, Hong Kong, Índia, e outros lugares onde acaba encontrando professores extraordinários, escolas de ioga, de artes marciais e de xamanismo. Teve muitas experiências e encontrou grande sabedoria, mas nenhuma paz duradoura.
A medida que suas viagens se aproximavam do fim e ficava mais desesperado – compelido em direção a um confronto final com as perguntas que não saiam de sua mente: O que é iluminação? Quando encontrarei paz?
Sócrates volta a iluminar o caminho de Dan quando ele começa a se sentir perdido, sem encontrar as respostas para as perguntas que o afligiam.
-Acorde! Se você tivesse a certeza de que tem uma doença terminal.. se tivesse pouco tempo de vida.. você desperdiçaria uma parte preciosa dela! Estou lhe dizendo, Dan, você tem uma doença terminal: chama-se nascimento. Seja feliz agora, sem motivos, ou jamais será feliz de verdade.
“O tolo é feliz quando seus desejos são satisfeitos. Um guerreiro o é sem motivo nenhum. É isso que faz da felicidade a disciplina maior que tudo o que lhe ensinei. Felicidade não é algo que você sente, é o que você é”
Sócrates
“Dan, essa é sua tarefa final, e será para todo o sempre. Esteja no mundo com felicidade, sinta-se feliz, seja feliz sem motivo nenhum. Então você poderá amar e fazer o que deve ser feito”
Já no final do livro, Sócrates leva Dan a uma caverna e explica sobre o mito da caverna de Platão:
Essas sombras na caverna são uma imagem primordial de ilusão e realidade, de sofrimento e felicidade. Eis uma história antiga, popularização por Platão:
“Era uma vez um povo que passou toda a vida na caverna das ilusões. Depois de várias gerações, acreditava-se que as sombras, projetadas nas paredes, eram a substância da realidade. Apenas os mitos e as histórias religiosas falavam de uma possibilidade mais auspiciosa. Obcecados pelas sombras, o povo acostumou-se a elas, tornando-se prisioneiro dessa realidade sombria”
“No decorrer da história, Dan, surgiram abençoadas exceções entre os prisioneiros da caverna: aqueles que se cansaram do jogo das sombras, que duvidaram delas, que não se satisfazia mais com elas por mais alta que estivessem. Esses passaram a buscar a luz. Poucos afortunados encontraram um guia que os preparou e os levou para além de toda ilusão, para a luz do Sol.“
“Todos os povos do mundo, Dan, estão presos nas cavernas de suas próprias mentes. Os poucos guerreiros que veem a luz, que encontram a liberdade renunciando a tudo, podem rir por toda a eternidade.“
Sócrates
E foi naquela mesma caverna, junto com Sócrates, que Dan teve o reconhecimento de sua verdadeira natureza imperecível e eterna, ele finalmente cruza o portão do guerreiro, que esteve dentro dele este tempo todo.
“O Dan Millman que viverá há muito tempo desaparecerá para sempre, num momento fugaz do tempo, mas eu não mudei durante os séculos. Agora eu era Eu, a Consciência que tudo observava, que era tudo. Todas as minhas partes separadas continuariam para sempre, em eterna mutação, sempre renovadas.
Agora eu percebia que o Ceifeiro Implacável, a morte que Dan Millman tanto temia, fora sua grande ilusão, um problema, nada além de um incidente divertido, quando a consciência estava esquecida de si mesma.”
Enquanto Dan estava vivo, ele não cruzara o portão, não percebera a sua verdadeira natureza, viverá só em mortalidade e medo.
Não falei muito, mas a toda hora desarmava a rir, porque todas as vezes que olhava em torno – para o céu, para a terra, as árvores, os lagos e os riachos, compreendia que tudo isso era eu, que não existia separação de forma alguma.
Eu havia perdido a minha mente e cairá no meu coração. O portão finalmente se abriria e eu entrará aos trambolhões, rindo, porque isso também era uma piada. Era um portão sem portão, outra ilusão, outra imagem que Sócrates tecera na trama de minha realidade, como me prometera a muito tempo.
Não há necessidade de busca, a realização não leva a parte alguma. Não faz diferença, portanto, seja feliz agora! O amor é a única realidade do mundo, porque tudo é Um, sabe? E as únicas leis são o paradoxo, o senso de humor e a mudança.
Não existe problema, nunca existiu e jamais existirá. Abandone a sua luta, livre-se da mente, jogue fora suas preocupações e relaxe no mundo. Não é preciso resistir a vida, basta fazer o melhor. Abra os olhos e veja que você é muito mais do que imagina. Você é o mundo, você é o universo, você é você e todo mundo também! Tudo é o maravilhoso jogo de Deus. Acorde, recupere o humor. Não se preocupe, apenas seja feliz. Você já é livre!
Sócrates, tendo cumprido sua missão de despertar Dan para sua verdadeira natureza diz para ele:
-É meu diário… Registros da minha vida, desde que era jovem. Ele responderá a todas as perguntas que você não fez. Agora é seu, é um presente. Já lhe dei tudo o que posso. Agora depende de você. Meu trabalho terminou, mas você ainda tem muito a fazer (…) Você escreverá e ensinará. Levará uma vida normal, aprendendo a permanecer normal num mundo agitado, ao qual, de certa maneira, você não pertence mais. Continue normal e poderá ser útil aos outros.
Porém, isso não era o fim de tudo. Mesmo depois que alguém realiza sua verdadeira natureza, a vida continua! Dan também percebe isso:
Eu atravessara o Portão, vira o que havia para ver; perceberá, no alto de uma montanha, minha verdadeira natureza. No entanto, assim como o velho que carregava seu fardo e prosseguia em seu caminho, eu sabia que, embora tudo tivesse mudado, nada mudara.
Eu ainda levava uma vida comum, com responsabilidades comuns. Teria que adaptar-se a uma vida feliz e útil num mundo que se ofendia com alguém que não se interessava por qualquer busca ou problema. Um homem excessivamente feliz, aprendi a irritar pessoas! Em muitas ocasiões, comecei a compreender e até mesmo invejar os monges que iam morar nas montanhas distantes.
Hoje ainda tenho a cabeça nas nuvens mas os meus pés estão firmemente plantados em solo firme. Essa imagem de equilíbrio representa o caminho do guerreiro pacífico – um caminho que abrange a carne e o espírito, o leste e o oeste, o masculino e o feminino, o interior e o exterior, a mente e o corpo, a escuridão e a luz, a coragem e o amor. Somos todos guerreiros pacíficos, o caminho cria o guerreiro.
E assim termina esse incrível livro de Dan Millman! Recomendo muito a leitura desse livro! Ele é repleto de sabedoria e de lições valiosas que podem te auxiliar na sua jornada de autodescoberta! Que sejamos todos guerreiros pacíficos!
Ainda farei outras resenhas de outros livros que o mesmo autor escreveu da saga “O caminho do guerreiro pacífico”, então fique ligado no site! Abraços!
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